ISSN-L: 0798-1015 • eISSN: 2739-0071 (En línea) - Revista Espacios – Vol. 44, Nº 07, Año 2023
Sydow E. & Silva P. «Em busca de uma calçada para caminhar: a privatização dos espaços públicos»
espaço humano circundante vivemos de maneira tão óbvia que suas peculiaridades não chamam nossa atenção,
e sequer refletimos a seu respeito (BOLLNOW, 2008; CARLOS, 2007).
O espaço urbano, representado por ruas, calçadas, prédios, parques, praças, automóveis e, claro, pessoas, nos é
dado de forma ambivalente, como estimulador e repressor. Esse espaço, para Bollnow (2008, p. 54) não é um
meio neutro e constante “mas é preenchido com significados nas relações vitais de atuações opostas, e esses
significados, por sua vez, mudam de acordo com os diferentes lugares e regiões do espaço”. Além disso, De
Certeau, segundo Harvey (2009), considera que as ordenações simbólicas do espaço oferecem uma estrutura
para a experiência com a qual aprendemos quem ou o que somos na sociedade. Assim como, nessa mesma linha
de pensamento, Bourdieu (2011) considera que as estruturas espaciais, além de estruturarem a representação
do mundo do grupo, estrutura o próprio grupo que se organiza de acordo com essa representação.
As cidades, tanto historicamente como atualmente, podem ser divididas, segundo Borja (2003) apud Sousa
(2010) em urbs que são sua dimensão física e é definida pela aglomeração humana, num território definido pela
diversidade funcional e social e pela densidade demográfica. Outra divisão da cidade é chamada de civitas que é
a sua dimensão social e é onde a cidade é, por excelência, o lugar da cidadania e que deve ter, por base, a
igualdade de cidadãos de uma sociedade urbana heterogênea, com valores e elementos de identidade com
referências físicas e simbólicas e baseadas na convivência e na tolerância. E, por último, temos a cidade polis que
representa a sua dimensão política que é o lugar da política da participação, de proximidade e representação da
identidade coletiva da sociedade, bem como da oposição, mobilização e expressão social e mudança nas relações
de poder. É importante, para um ambiente urbano adequado, que estas três dimensões existam e se
interrelacionem.
Os espaços públicos urbanos são de uso coletivo e são geridos pelas instituições governamentais, sendo proibida
a sua utilização privada. Por sobre os espaços públicos, pode-se ter um olhar através da Arquitetura, do Direito,
da Sociologia, Psicologia, entre outros. Se olharmos a urbe pelos aspectos arquitetônicos, podemos considerar
os espaços públicos como elementos estruturadores de sua forma; pelo Direito, estes espaços têm natureza
jurídica, quando se pensa na sua função sociológica é um espaço para se consolidar laços sociais como condição
de qualidade de vida urbana. (CASTRO, 2002).
Alguns elementos são importantes para a compreensão das cidades e, entre esses, um é primordial: a forma de
olhar a cidade. Longe de traduzir apenas imagens parciais, revela “qualidades” do espaço urbano. Um olhar
consciente capta o imaginário urbano presente em cada momento da vida cotidiana e, lançar um olhar, assim,
sobre a cidade, permite que haja identificação da relação existente entre esta e o próprio pensamento, entre o
privado e o público, “[...] entre os espaços da intimidade e os grandes espaços coletivos urbanos, entre a
emergência de distintas formas de sociabilidade e os signos que as sustentam, recuperando algumas das
promessas de nossa cultura” (LIMENA, 2001, p.39). Quando paramos para olhar a cidade, podemos observar a
heterogeneidade ali existente: os modos de vida, as formas de morar, o uso dos terrenos por várias atividades
econômicas, entre outros aspectos.
Entre os múltiplos espaços públicos encontram-se as calçadas que Jacobs (2000) considera como espaço de
encontro e integração e a considera a base da vitalidade urbana, matéria-prima da urbanidade. Para ela, ruas
mal iluminadas, calçadas desprovidas de qualidades mínimas, mau equacionamento do convívio entre
automóveis e pedestres, são alguns dos elementos físicos e espaciais que corroem a urbanidade. Além disso, os
passeios públicos são elementos essenciais para o funcionamento das cidades e para garantir a circulação segura
e confortável dos pedestres. Seu dimensionamento, construção, manutenção e uso devem ser parte integrante
de todo planejamento e fiscalização urbano.