Vol. 38 (Nº 10) Año 2017. Pág. 8
Gizelli de Jesus da SILVA 1; Ricardo DAHER Oliveira 2; Ícaro Romolo Sousa AGOSTINO 3; Saymon Ricardo de Oliveira SOUSA 4; Carlos César RONCHI 5
Recibido: 13/09/16 • Aprobado: 05/10/2016
3. Educar para a Solidariedade: Novas Maneiras de Relacionar-se
RESUMO: A diretriz que norteou esta pesquisa foi saber como o estabelecimento de parcerias entre a escola solidária, grupos de voluntariados e empresas poderá favorecer a formação cidadã dos aprendentes. Como principais resultados obteve-se que a escola solidária promove a construção da cidadania dos alunos, e que o estabelecimento de parcerias, envolvendo a escola solidária com grupos de voluntariados e empresas socialmente comprometidas, poderá potencializar as chances de sucessos de projetos voltados à coletividade. Conclui-se que a escola solidária traz e pratica uma educação que investe no ser humano como agente capaz de transformar positivamente a sociedade em que vive. |
ABSTRACT: It is formulated as the guiding question of this research the following question: How the establishment of partnerships between the school solidarity, groups of volunteers and companies can favor as to citizen formation of learners? As main results we obtained that the school solidarity promotes the construction of citizenship of the students, and that the establishment of partnerships involving the school solidarity with groups of volunteers and companies socially committed potentiates the chances of success of projects directed to the collectivity. It is concluded that the school solidarity brings and practiced an education which invests in the human being as an agent capable of transforming positively the society in which he lives. |
Na atualidade uma nova escola, comprometida com a dignidade do ser humano, começou a surgir revolucionando, com suas propostas, toda a Educação. Trata-se da escola solidária, cuja pedagogia, ao contrário de simplesmente reproduzir o sistema político-social vigente, busca um ensino transformador, capaz de propiciar a construção da cidadania por parte do aprendente.
O foco principal da escola solidária é o ser humano, vendo-o como agente capaz de identificar problemas sociais e agir para a solução desses problemas, independentemente de serem fatores ligados à pobreza, degradação do meio ambiente ou outro enfrentamento específico. A escola solidária, a bem da verdade já pioneiramente estabelecida por notáveis educadores, a exemplo de Rabindranath Tagore na (Índia), com a escola de Shantiniketan, vê o homem como um aprendiz que necessita de auxílio para desenvolver seu senso crítico, por isso lhe dá condições de interagir produtivamente na sociedade onde está inserido. Assim, a formação de um verdadeiro cidadão, ciente de seus direitos e deveres, passa por uma educação solidária que, longe de ser caritativa, propõe a formação de seres pensantes, que realmente aprendem e utilizam o que aprenderam na sua vida social, buscando a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.
Ante a relevância desse assunto o tema definido para este trabalho foi a Responsabilidade Social da escola solidária, manifestada por meio da construção da cidadania do aluno.
Grupos de voluntariados e empresas, dentre outros, cada vez mais se envolvem em ações voltadas à coletividade, interagindo junto a idosos, pessoas com deficiência, situações de desemprego, miséria, riscos ambientais, empreendimentos voltados à melhoria da qualidade de vida das pessoas, etc. A Responsabilidade Social é cada vez mais comum, pois além de favorecer à sociedade mostra-se importante diferencial para as organizações empresariais e demais grupos. Também amiudadamente mais frequente o estabelecimento de parcerias entre instituições e escola visando o sucesso de seus projetos voltados à população. Então, pergunta-se: Como o estabelecimento de parcerias entre a escola solidária, grupos de voluntariados e empresas pode favorecer quanto à formação cidadã do aprendente?
No intuito de responder à questão-problema propôs-se como objetivo geral deste trabalho discorrer sobre a importância da escola solidária para a construção da cidadania dos alunos.
E, para alcançar o objetivo geral, estabeleceram-se como objetivos específicos:
Justifica-se a elaboração desta pesquisa ante a constatação de que a Educação brasileira necessita contextualizar-se com os tempos atuais, sendo capaz de formar agentes promovedores de ações voltadas à resolução de problemas sociais, como pobreza, analfabetismo, degradação do meio ambiente, maus tratos a crianças, adolescentes e idosos, etc. Desta forma, a Educação não pode ater-se simplesmente à reprodução da sociedade vigente, e sim transformá-la. Neste sentido, aponta-se a importância do desenvolvimento de estudos sobre a escola solidária, especialmente no que se refere à construção da cidadania por parte dos alunos. Assim, justifica-se a realização desta pesquisa visto esta mostrar-se válida ao professorado, à sociedade em geral e também para a própria acadêmica, que viu seus conhecimentos sobre educação solidária serem grandemente majorados.
Desta forma, por meio de pesquisa bibliográfica, apresenta-se o estudo que ora tem início.
A educação tradicional está estreitamente relacionada à perpetuação de padrões e sistemas sociais. Como afirmado por Varella e Dias (2008), o saber transmitido no ambiente escolar integra valores, conhecimentos, modelos e experiências acumuladas no decorrer da existência de todos os agentes do processo educativo. Empiricamente, são três funções atribuidas a ecola: 1) antroplológica que está relacionada a cultara; 2) sociológica condicionada a socialização dos saberes e; 3) pedagógica visando a trasmissao de valores. Esta historicidade tem uma relação direta com as condições sociais da vida desses sujeitos e como eles as representam. Assim, há a redução do sujeito aprendente à condição de aluno adequado ou propenso a adequar-se a um sistema tido com padrão.
Contudo, nas últimas décadas, a escola solidária vem despertando como uma forma de repensar a educação, focando sua atenção e seus interesses com maior intensidade no ser humano, com todas as fragilidades e intensidades que lhe são típicas. Essa nova escola está aos poucos distanciando-se de padrões arbitrariamente impostos por interesses governamentais e afins, para desenvolver suas ações em uma perspectiva solidária e cidadã. Neste sentido aponta-se que: “A nova escola é aquela que vai substituindo velhos paradigmas por novos paradigmas, construindo junto com todos os alunos uma nova maneira de pensar e de viver a educação". (SASSAKI, 1997, p. 27)
Uma escola é uma escola solidária quando, dentre outras atividades,
a) Estimula o relacionamento aberto entre alunos, professores, funcionários e comunidade; b) estimula projetos de voluntariado educativo; c) trabalha a partir de uma gestão democrática; d) promove a cidadania ativa; e) oferece seu espaço para a comunidade nos horários ociosos, utilizando sua área física para o bem-comum; f) integra em suas disciplinas conteúdos relativos ao meio ambiente, cidadania, direitos humanos, consumo consciente, sustentabilidade, etc; g) desenvolve uma educação para a paz, aproveitando a diversidade cultural como espaço de aprendizagem; h) faz parte de uma rede de escolas, na qual troca experiências com outras reforçando a solidariedade; e i) une a teoria à prática em projetos envolvendo toda a comunidade escolar. (GRUPO BRASIL VOLUNTÁRIO, 2015, p. 1)
Refletindo sobre a trajetória histórica da palavra solidariedade, Sberga (2001) informa que solidariedade era um termo comumente utilizado na cultura marxista. Também recorda que ao longo de muitos anos, em vários países, solidariedade estava associada à ideia de caridade. Contudo, na atualidade, solidariedade deixou de estar interligada ao marxismo e ao sentimento de compaixão ou de comoção diante do sofrimento para adquirir uma conotação mais politizada. Desta forma, passou a ser um perseverante empenho pelo bem comum e pela melhora da qualidade de vida de todos.
Conforme Medina e Santos (1999), a crise verificada no atual sistema educativo impõe a necessidade de busca por modelos alternativos que possam substituir antigas estruturas ainda vigentes na esfera educacional. Ao analisar as necessidades de mudança na educação, não é possível desconsiderar determinadas características da sociedade contemporânea, tais como o consumismo desenfreado, a substituição das referências de valor, em que o fundamental é o 'ter' e não o 'ser', a perda da essência do próprio ser humano como ser histórico, e a falta de análise crítica diante de determinadas situações, resultado da imposição da sociedade da informação em lugar da sociedade do conhecimento.
De acordo com Gomes (2006) o foco da sociedade contemporânea não pode mais estar direcionado apenas para a produção de riquezas ou apenas preparar para o mercado de trabalho, mas para a sua correta distribuição e melhor utilização. Desta forma, torna-se necessária uma verdadeira e efetiva mudança de postura na relação entre o homem e a natureza, onde não há a dominação, mas a harmonia entre eles. Ressalta-se que:
A educação, dever do Estado, numa sociedade globalizada, deve ensinar o cidadão a viver em uma aldeia planetária; a se transformar em cidadão do mundo; a aceitar a mundialização da cultura, sem, entretanto, perder e renunciar às suas raízes culturais. Portanto, na pós-modernidade, a educação deve ser um ato de ousadia e um eterno desafio. Devemos assumir com humildade os erros históricos e ter a predisposição de superá-los para que possamos contribuir na construção de um mundo melhor. (LAMPERT, 2005, p. 45-46)
Varella e Dias (2008) ressaltam que qualquer escola deve ser uma escola para todos, isto é, necessita ser uma escola solidária, explicitando o princípio de solidariedade. Esses autores entendem que é no ambiente escolar que os sujeitos necessitam (re)construir e (re)organizar suas histórias passadas e vidas presentes para deixar fluir sua identidade cidadã. Com isso, dão sentido à realidade em que vivem, interpretando-a e apropriando-se dos elementos compartilhados no contexto escolar, como fatores cognitivos, afetivos, culturais, tecnológicos, corporais e lúdicos, dentre outros. Para tanto é necessário que esses elementos estejam acessíveis a todos e refletidos nas propostas pedagógicas, fazendo parte dos projetos políticos pedagógicos da escola.
Segundo ainda Varella e Dias (2008), quando os projetos pedagógicos focam os interesses da cidadania, considerando os aspectos intra e extramuros da escola, o ambiente escolar passa a perceber sua principal função social, que é a formação integral de seus cidadãos. Com isso, busca-se incorporar os valores culturais às concepções da formação de sujeitos pensantes, objetivando a formação de uma massa crítica, voltada ao fortalecimento da sociedade e ao desenvolvimento do País. Nas palavras dos autores:
A escola deverá ser um [...] lugar de entrecruzamento do projeto coletivo da sociedade e os projetos pessoais e existenciais dos sujeitos que se encontram envolvidos naquele contexto educacional. Isto inclui professores, gestores, alunos, famílias, comunidade circunvizinha à escola, bem como alguns elementos indispensáveis ao fazer pedagógico, sejam eles: o currículo, os projetos, a metodologia adotada, a sistemática de avaliação, o aparato técnico e tecnológico, o ambiente físico, a intencionalidade e as atitudes refletidas em todos esses elementos. (VARELLA; DIAS, 2008, p. 6)
De acordo com Santos (2005), educar com base na solidariedade é para os educadores uma luta a favor da liberdade, justiça e dignidade humana. Crer em uma educação baseada neste princípio é apostar confiantemente no papel fundamental da cidadania e da consciência de dignidade do povo brasileiro. Textualmente afirma-se que
Atualmente, educar é mais do que nunca acumular saber para humanizar, distribuir e dar um sentido ético, isto é, um ato solidário com a dignidade do ser humano e do mundo. É ensinar a olhar para fora e para dentro de nossa sociedade, é ser humanista tendo total compreensão da realidade. (SANTOS, 2005, p. 30)
Segundo Assman (2003), uma aprendizagem importante para o desenvolvimento de atitudes relacionadas à solidariedade está relacionada com a percepção das causas das dificuldades mais comuns enfrentadas pelos aprendentes. Assim, conhecer as condições de vida das pessoas, aprender a buscar as causas das dificuldades enfrentadas pelo outro contribuirá para que não sejam perpetuadas posturas equivocadas e preconceituosas e para que se modifiquem atitudes indiferentes diante de situações injustas ou egoístas, geralmente aceitas como naturais.
Entende-se que a escola solidária está plenamente contextualizada, certamente, inserida em valores das teorias histórico-críticas com os tempos atuais. A concepção do homem está mudando, e o entendimento que o ser humano nutre sobre suas relações sociais e seu papel na sociedade está modificando-se também. Isso faz com que valores como solidariedade e cidadania floresçam, o que leva a educação a atualizar-se com o objetivo de trabalhar e desenvolver este novo paradigma.
A solidariedade está intrinsecamente relacionada ao conceito de cidadania. Santos (2005) explica que cidadania deriva da palavra latina civis, que se referia à cidade e designava o habitante de cidades. Contudo, civis não se referia a qualquer habitante de cidades, mas sim àqueles que detinham direitos e que participavam de atividades políticas. Portanto, restringia-se àqueles julgados capacitados a discutir problemas de cunho comum, o que excluía os escravos, estrangeiros e outras minorias. Um dos conceitos válidos de cidadania na atualidade é enunciado por Dallari (2004, p. 24) ao afirmar que “a cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo”.
Complementando esse aspecto conceitual Santos (2005) afirma que exercer a cidadania é reconhecer e assumir as responsabilidades surgidas a partir de um conjunto de valores da ética cidadã. A cidadania é socialmente constituída como um espaço de instituições, valores e ações capazes de garantir efetivas condições de igualdade, permitindo aos cidadãos serem sujeitos de uma comunidade igualitária. A partir destas ponderações pode-se entender cidadania como o “exercício de uma prática inegavelmente política e fundamentada em valores como a liberdade, igualdade, autonomia, o respeito à diferença e as identidades, a solidariedade, a tolerância e desobediência a poderes totalitários”. (SANTOS, 2005, p. 14)
Santos (2005) refere que ser cidadão implica em vivenciar uma ética cidadã, por isso torna-se necessário definir ações pedagógicas que ressaltem a cidadania e a solidariedade a serem aplicadas dentro ou fora do espaço escolar. Estas ações necessitam ser conscientes e coerentes com os princípios éticos, ou seja, não se pode educar para a liberdade a partir de práticas autoritárias e não se pode educar visando à solidariedade a partir de práticas desinteressadas. Afirma-se que
A ação educativa permite construir nos educandos a auto percepção de sua condição de cidadão, garantindo o respeito e proteção do sistema democrático e suas instituições educativas. O direito à cidadania deve ser compartilhado por todos os membros da comunidade e a ignorância demonstrada pela sociedade em relação a esses direitos impede o crescimento do indivíduo. (SANTOS, 2005, p. 17)
Santos (2005) compreende a cidadania como uma extensão dos direitos e deveres inerentes à realidade social, e não simplesmente como o direito de votar. A cidadania está presente na conjugação dos direitos e deveres universais dos seres humanos, incorporando as expressões individuais e coletivas das mais diversas identidades. E como formadores de indivíduos que podem fazer a diferença na sociedade em que vivem, os professores necessitam ter em mente que a educação visa à formação de cidadãos responsáveis, livres, autônomos, críticos e solidários, semeando valores universais presentes em todas as culturas. O autor acredita que: “Formar cidadãos é um grande desafio tanto ético como político. Pensar numa educação baseada no exercício da cidadania implica pensar em valores, normas e direitos que fazem parte da prática cidadã, consequentemente da práxis pedagógica”. (SANTOS, 2005, p. 14)
Para tanto, de acordo com Santos (2005), inserir projetos sociais que promovem a cidadania é um excelente caminho para que as ações educativas possam favorecer a construção de um sujeito consciente, crítico e engajado com os acontecimentos que fazem parte de toda a sociedade. Com tal prática será possível abolir o estigma de se formar o educando para reproduzir o pensamento da classe dominante, o que auxiliará em muito para a maior difusão das práticas solidárias, uma vez que estas estão mais contextualizadas com os dias atuais, onde o ser humano passa por uma fase de valorização.
Já que os conceitos de solidariedade e cidadania encontram-se entrelaçados, verifica-se que a escola solidária necessita pautar suas ações pedagógicas tendo em vista a construção da cidadania por parte dos alunos. Desta forma, um conceito amplia e ampara o outro (solidariedade e cidadania), o que favorece toda a sociedade, uma vez que esta receberá cidadãos éticos solidariamente compromissados com os interesses da comunidade.
Educar para a solidariedade é uma nova maneira de a escola relacionar-se com a sociedade onde se encontra inserida. Por meio da Educação solidária se propõe a cidadania, a solidariedade e a transformação positiva da coletividade em detrimento a práticas competitivas, consumistas e conformistas.
Santos (2005) afirma que educar para o desenvolvimento social não é algo fácil de concretizar, uma vez que se trata de pensar a educação em um contexto marcado por desníveis. Contudo, mesmo assim, os desafios devem ser enfrentados, pensando em uma ação educativa que esteja de acordo com a compreensão da realidade social. Assim, a Educação promove um processo no qual o indivíduo se transforma, se educa, e quando este sujeito passa a comunicar os resultados obtidos de sua experiência, ajuda outros a se educarem, tornando-se solidário com eles.
Na opinião de Santos (2005) educar para a solidariedade é fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e democrática. Isto está diretamente relacionado à construção da cidadania. Para o autor isto implica em formar indivíduos capazes de exercerem sua participação na vida política.
Conforme Santos (2005), é necessário romper com as amarras que limitam a ação pedagógica dos professores, quando estes profissionais preocupam-se mais com exames e aprovações onde acrescenta-se planos de ensino compartimentados e programas inflexíveis, do que com a apreensão do saber e a construção do conhecimento. No atual modelo de ensino brasileiro os educadores geralmente têm por objetivo simplesmente preparar o aluno para o mercado de trabalho ou para o vestibular universitário, sendo que este currículo meramente informativo ignora a necessidade da formação cidadã.
Assim, Santos (2005) detecta que, na atualidade, há uma grande falha no sistema educacional brasileiro, em relação a educar para a transformação positiva da sociedade. Assume-se ainda uma postura de omissão do sistema educacional perante sua função de educar para a solidariedade, o que se torna preocupante principalmente pela forte resistência do ensino público em propiciar uma formação democrática que incutirá valores e conhecimentos aos aprendentes, capacitando-os e encorajando-os a exercerem uma posição atuante na construção social. Desta forma, para o autor, formar indivíduos com princípios morais se torna um desafio para a educação, mas um desafio possível de ser vencido, o que proporcionará um mundo melhor, mais ético, solidário e fraterno.
A escola solidária se vale do estabelecimento de parcerias no sentido de assumir sua responsabilidade social de construir a cidadania dos seus alunos. Dentre as suas parcerias destacam-se as mantidas com grupos de voluntariado e empresas dos mais diversos setores.
Em se tratando do voluntariado, este é entendido como um dos “[...] instrumentos básicos de atuação da sociedade civil no âmbito social e vem sendo encarado como fundamental no desenvolvimento, promoção e resgate da cidadania, da responsabilidade social e da democracia". (JUNQUEIRA, 2002, p. 138)
Peregrino e Carrano (2004) destacam que, a partir da década de 1990, passaram a emergir práticas culturais juvenis relativas a ações sociais formadoras de novas solidariedades e identidades coletivas. Jovens de todos os estratos sociais se envolveram em diferentes formas de participação social para ações voluntárias de solidariedade, movimentações políticas, grupos artísticos e esportivos e redes religiosas, dentre outras ações coletivas.
Klein (2004) argumenta que, na medida em que as práticas de voluntariado se institucionalizam, os discursos em torno da solidariedade passam a ser vistos como estratégias de governo, provocando novas formas de relações entre o Estado e a sociedade. Além disso, conforme sesse autor, esses discursos foram produzindo outros entendimentos, tanto sobre o papel da docência na escola, baseada em fundamentos de vocação, doação e missão, como também construindo um currículo escolar voltado à participação da comunidade.
De acordo com Silva (2009), a cultura do voluntariado tem diretamente repercutido na Educação através da proliferação de programas e projetos nos diferentes níveis de ensino. Dentro destes programas e projetos destacam-se a Universidade Solidária, Educação Solidária, Alfabetização Solidária, Projeto Amigos da Escola, entre outros. Essas iniciativas envolvem diversas fontes de financiamento, na maioria das vezes, através de parcerias estabelecidas com a Organização das Nações Unidas para a Educação (UNESCO), Rede Globo e outras empresas privadas, ONG’s, entidades filantrópicas e, por vezes, órgãos governamentais.
Conforme Silva (2006) na atualidade ocorre a constituição de uma nova forma de cidadania e de percepção do público não como propriedade do Estado, mas como bem social. Desta forma, surge uma forma de contribuir de forma verdadeiramente democrática na constituição de uma sociedade pautada em princípios de participação, equidade e solidariedade, garantindo a manutenção das conquistas sociais asseguradas pelo Estado. Assim, pode-se dizer que:
[...] as atuais propostas de voluntariado na educação, com toda a carga neoliberal que carregam, coexistem com a possibilidade dessa ação voluntária sobre os impactos sociais de uma sociedade desigual e injusta servir como base para que as pessoas tomem consciência, a partir do seu trabalho, sobre os limites desse tipo de ação. A tomada de consciência sobre esses limites leva as pessoas a buscarem outro tipo de intervenção, mais coletiva, de impacto sobre os direitos dos cidadãos e sobre as estruturas injustas da nossa sociedade. A possibilidade da cidadania global e dessa passar a ser concebida como projeto político associado à possibilidade de uma futura comunidade política de alcance global com um caráter político de longo prazo, mais constitutivo e desafiador, pode ser o outro lado da moeda, no qual precisamos investir. (BÜHRER, 2002, p. 87)
Quanto ao conceito de responsabilidade social empresarial, Borger (2003) afirma que esta concepção está relacionada à ideia de responsabilidade legal; a um comportamento socialmente responsável no sentido ético; ou ainda à noção de contribuição social voluntária e associação a uma causa específica. Amplia-se o aspecto conceitual de responsabilidade social das empresas afirmando-se que esta significa:
[...] tratar com dignidade os seus funcionários, fabricar produtos adequados ao que se espera, prestar serviços de qualidade, veicular propaganda verdadeira, promover limpeza no ambiente de trabalho, não sujar ruas ou dificultar o trânsito, contribuir para as causas da comunidade, não explorar mão de obra infantil, escrava ou de qualquer forma incapaz de se defender. Age de forma socialmente irresponsável a empresa que não observa esse comportamento. (GARCIA, 1999, p. 2)
Ainda é Borger (2003) que corrobora esta afirmação, ao observar que é inegável que as atividades e as operações das empresas afetam a sociedade como um todo. A população passou a expressar suas preocupações com o comportamento social das empresas em relação aos problemas sociais e ambientais exigindo maior envolvimento das entidades na solução dos problemas surgidos. Inicialmente, este questionamento manifestou-se com as relações de trabalho, como a proteção e garantia de benefícios e encargos trabalhistas. Posteriormente, as questões ultrapassaram os limites internos das empresas trazendo novas questões como meio ambiente, equidade para grupos minoritários (mulheres, pessoas com deficiência), etc. Esse autor observa que, atualmente, não existe mais uma linha divisória entre problemas que estão fora e dentro das empresas: as soluções devem ser compartilhadas com a sociedade e as organizações devem contribuir ativamente com as soluções, sob o risco de serem questionadas, processadas e cobradas pelos seus atos.
Para Melo Neto e Fróes (1999), a responsabilidade social empresarial é um conceito decorrente de um movimento social encabeçado por diversas empresas e que tem por principal objetivo conferir uma nova imagem empresarial às organizações que se convertem em investidoras em projetos sociais, conseguindo com isso obter diferenciais competitivos. Assim, de acordo com Guedes (2014), por meio do exercício da cidadania a entidade se diferencia de seus concorrentes, e também se torna estratégica para o país ao apontar para uma participação social intensa de todos os setores da economia como forma de alternativa para minorar os efeitos de exclusão social e outros problemas sociais.
Sirvinskas (2002) evidencia a necessidade da sociedade, incluso a escola e o empresariado, buscar uma nova ética, orientada por um sentimento de pertencimento mútuo entre todos os membros que compõem a coletividade. A Ética sempre esteve preocupada com as questões de existência do homem, mas nos dias atuais necessita voltar-se principalmente para a sua inter-relação com o planeta, tornando-se uma ética voltada a um relacionamento equilibrado entre a natureza e o ser humano. Neste sentido afirma-se que:
Necessita-se de uma mudança fundamental na maneira de pensarmos acerca de nós mesmos, nosso meio, nossa sociedade e nosso futuro; uma mudança básica nos valores e crenças que orientam nosso pensamento e nossas ações; uma mudança que nos permita adquirir uma percepção holística e integral do mundo com uma postura ética, responsável e solidária. (MEDINA; SANTOS, 1999, p. 18)
Com base no exposto verifica-se que o estabelecimento de parcerias é uma estratégia válida a ser adotada pela escola solidária. Ao contar com o apoio de grupos de voluntários e empresariado, por exemplo, ações voltadas para uma educação direcionada para a formação da cidadania têm majoradas as suas chances de se desenvolverem com sucesso.
De acordo com Rodrigues (2007, p. 2) metodologia científica: “É um conjunto de abordagens, técnicas e processos utilizados pela ciência para formular e resolver problemas de aquisição objetiva do conhecimento, de uma maneira sistemática”. Desta forma, para a elaboração deste trabalho, propôs-se o uso da pesquisa bibliográfica. De acordo com Heerdt (2015, p. 4) a pesquisa bibliográfica: “[...] é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Rodrigues (2007) complementa informando que este tipo de pesquisa recupera o conhecimento científico acumulado sobre um determinado problema.
A pesquisa bibliográfica ocorreu através da leitura de livros, trabalhos acadêmicos e artigos científicos disponibilizados em conceituados sites da internet, com a consulta a autores que abordam o tema proposto para este trabalho. Por meio destes procedimentos esperou-se recolher uma gama muito rica de informações, as quais se mostraram sobremodo válidas para o andamento do presente estudo.
Quanto ao plano de análise e interpretação dos dados, Rauen (1999) afirma que esta etapa é a parte da pesquisa que apresenta os resultados obtidos na pesquisa e analisa-os sob o crivo dos objetivos e/ou das hipóteses. Desta forma, a apresentação dos dados é a evidência das conclusões obtidas e sua interpretação consiste no contrabalanço dos dados com a teoria. Para o autor o objetivo da análise é sumariar as observações, de forma que estas permitam respostas às perguntas da pesquisa. O objetivo primordial da interpretação de dados é a procura do sentido mais amplo de tais respostas em relação a sua ligação com outros conhecimentos já obtidos.
No presente estudo a análise dos dados se deu de forma qualitativa, sendo os resultados apresentados de forma discursiva. Conforme Silva (2004) a pesquisa qualitativa considera que há um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números, sendo que a interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicos no processo de pesquisa qualitativa. Esta modalidade de pesquisa não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas, pois é o ambiente natural a fonte direta para coleta de dados, sendo o pesquisador o instrumento-chave.
Findo o estudo, pode-se afirmar que a questão envolvendo a problemática da pesquisa foi respondida, pois foi possível compreender como o estabelecimento de parcerias entre a escola solidária, grupos de voluntariados e empresas poderá favorecer quanto à formação cidadã do aprendente. De forma semelhante os objetivos foram alcançados, visto ter sido possível discorrer sobre a importância da responsabilidade social da escola solidária para a construção da cidadania dos alunos; refletir sobre escola solidária, cidadania e Educação voltada para a solidariedade; apontar a importância do estabelecimento de parcerias envolvendo a escola solidária com outras entidades visando o sucesso dos projetos de cunho social; e evidenciar a construção da cidadania como fator indispensável para a transformação positiva da sociedade.
Verifica-se que, na atualidade, não há mais espaço para a simples reprodução do conhecimento. O saber necessita ser construído e reconstruído tendo em mente o verdadeiro aprendizado do aluno, aprendizado este que o transformará em um cidadão apto a agir positivamente na coletividade. Neste sentido destaca-se a escola solidária, pois promove uma educação voltada para a construção da cidadania, focando em aspectos essenciais como a luta contra a fome, a miséria, o desemprego, a destruição da natureza e vários outros pontos chave de cunho social. Ao invés de perpetuar a sociedade vigente, educando para a competição, consumismo e conformação, cumpre que a escola solidária eduque para a cidadania, solidariedade e transformação.
A realização deste estudo permitiu perceber que o estabelecimento de parcerias entre a escola solidária, voluntariado e empresariado favorece grandemente ao alcance dos objetivos definidos em projetos de cunho social. Entende-se que a união de esforços expressa-se válida no sentido de potencializar ações que visam à melhoria da sociedade e a qualidade de vida do cidadão. Assim, a Responsabilidade Social da escola solidária, refletida na construção da cidadania, tem maiores chances de concretizar-se com êxito, produzindo fecundos frutos.
Como sugestão para trabalhos futuros assinala-se a importância de estudos envolvendo o Selo Escola Solidária. Este assunto não foi tratado nesta pesquisa não por ser um tema de menor importância, mas por não haver espaço para tal abordagem na presente produção.
Assmann, H. (2003). Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente. Petrópolis, RJ: Vozes.
Borger, F. G. (2003). Responsabilidade social: efeitos da atuação social na dinâmica empresarial. Tese de doutorado, administração Universidade de São Paulo, SP, Brasil. Recuperado em 20 novembro, 2015, de http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12139/tde-04022002-105347/en.php
Bührer, C. M. (2002). Projeto Amigos da Escola: os sentidos das articulações possíveis entre escola e comunidade. Dissertação de Mestrado em Educação. Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paraná, Brasil. Recuperado em 25 novembro, 2015, de http://www.portalanpedsul.com.br/admin/uploads/2004/Painel/Painel/09_12_50_PROJETO_AMIGOS_DA_ESCOLA_OS_SENTIDOS_DAS_ARTICULACOES_POSSIV.pdf
Dallari, D. de A. (2004). Direitos humanos e cidadania. São Paulo: Moderna.
Garcia, A. (1999). Teorias da globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
Gomes, D. V. (2006, jan./jun.). Educação para o consumo ético e sustentável. Rev. Eletrônica Mestr. Educ. Ambient., (16), p. 18-31, Recuperado em 20 novembro, 2015, de http://nead.uesc.br/arquivos/Biologia/reoferta/bsc1/revista-eletronica-do-mestrado.pdf
Grupo Brasil Voluntário. (2015). O que é ser escola solidária? Recuperado em 25 novembro, 2015, de http://www.facaparte.org.br/?p=1512
Guedes, R. de C. (2014). Responsabilidade social & cidadania empresariais: conceitos estratégicos para as empresas face à globalização. Recuperado em 20 novembro, 2015, de http://www.lasociedadcivil.org/wp-content/uploads/2014/11/cassia_guedes.pdf
Heerdt, M. L. (2015). O projeto de pesquisa. Recuperado em 25 novembro, 2015, de http://www.trabalhosfeitos.com/topicos/rela%C3%A7%C3%A3o-professor-aluno/120
Junqueira, L. P. (2002).Trabalho voluntário e a gestão das políticas sociais. In: Perez, C.; Junqueira, L. P. (Org.). Voluntariado e a gestão das políticas sociais. São Paulo: Futura. p. 138-147
Klein, R. R. (2004). Escola solidária: os discursos do voluntariado e sua relação com a Educação. Recuperado em 20 novembro, 2015, de http://www.periodicos.udesc.br/index.php/linhas/article/view/1223/1036
Lampert, E. (2005). Pós-modernidade e educação. In: Lampert, E. Pós-modernidade e conhecimento: educação, sociedade, ambiente e comportamento humano. Porto Alegre: Sulina. p. 11-48.
Medina, N. M. & Santos, E. da C. (1999). Educação ambiental: uma metodologia participativa de formação. Petrópolis: Vozes.
Melo Neto, F. P. de; Fróes, C. (1999). Responsabilidade social & cidadania empresarial: a administração do terceiro setor. Rio de Janeiro: Qualitymark.
Peregrino, M.; Carraro, P. (2004). Escolas e jovens que se habitam: desafios cotidianos e de fins de semana. In: Costa, A. et al. (Orgs). Escola da família: ideias. São Paulo: FDE. p. 53-68.
Rauen, F. J. (1999). Elementos de iniciação à pesquisa. Rio do Sul (SC): Nova Era.
Rodrigues, W. C. Metodologia científica. (2007). Recuperado em 25 novembro, 2015, de http://www4.fct.unesp.br/docentes/educ/alberto/page_download/METODOLOGIA/metodologia_cientifica.pdf
Santos, P. L. dos. (2005). A construção do cidadão: uma responsabilidade social um novo olhar psicopedagógico em prol de uma educação democrática. Monografia, Universidade Cândido Mendes, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Recuperado em 20 novembro, 2015, de http://www.avm.edu.br/monopdf/6/PRISCILA%20LOUREIRO%20DOS%20SANTOS.pdf
Sassaki, R. K. (1997). Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA.
Sberga, A. A. (2001). Voluntariado educativo. Recuperado em 20 novembro, 2015, de http://www.voluntariado.org.br/biblioteca/img/col_faca_parte_08.pdf
Silva, A. M. (2009, 20-25 agosto). Dilemas do voluntariado na educação em Aracaju/SE. IV Jornada Internacional de Políticas Públicas, São Luiz, MA, Brasil. Recuperado em 20 novembro, 2015, de http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinppIV/OLD/eixos_OLD/11.%20Impasses%20e%20Desafios%20das%20Politicas%20de%20Educa%C3%A7%C3%A3o/DILEMAS%20DO%20VOLUNTARIADO%20NA%20EDUCA%C3%87%C3%83O%20EM%20ARACAJU%20SE1.pdf
Silva, C. R. de O. (2004). Metodologia e organização do projeto de pesquisa. Recuperado em 25 novembro, 2015, de http://www.ufop.br/demet/metodologia.pdf
Silva, L. B. & Oliveira, R. (2006). Voluntariado na educação brasileira: um estudo do caso do Programa Amigos da Escola, no município de Buíque-PE. 2006. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Pernambuco, Recife. Recuperado em 20 novembro, 2015, de http://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/4406?show=full
Sirvinskas, L. P. (2002, agosto). Meio ambiente e cidadania. Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos, Bauru, (35), p. 305-307. Recuperado em 25 novembro, 2015, de
Varella, M. da C. B.; Dias, M. A. (2008). Escolas solidárias: onde queremos chegar! Recuperado em 20 novembro, 2015, de http://www.afirse.com/archives/cd11/GT%2005%20-%20%20POL%C3%8DTICAS%20E%20PR%C3%81TICAS%20DE%20EDUCA%C3%87%C3%83O%20INCLUSIVA/525-ESCOLAS%20SOLID%C3%81RIAS%20Maria%20da%20Concei%C3%A7%C3%A3o.pdf
1. Doutoranda em Ciências da Educação pela Universidad Autónoma de Asunción e, Analista de Gestão de Desempenho na Vale S/A. E-mail: gizzelli@gmail.com
2. Professor Pesquisador Doutor da Universidade CEUMA – Maranhão – ricardo.daher@hotmail.com
3. Pesquisador, Engenheiro da Produção
4. Pesquisador, Engenheiro da Produção
5. Professor Pesquisador Mestre da Universidade CEUMA - Maranhão