Espacios. Vol. 37 (Nº 10) Año 2016. Pág. 26
Thálita Anny Estefanuto ORSIOLLI 1; Rodrigo Luiz MORAIS-DA-SILVA 2; Eduardo DE-CARLI 3; Luiz Aurélio VIRTUOSO 4; Paulo Henrique PRETO 5; Fernando Antonio Prado GIMENEZ 6
Recibido: 13/12/15 • Aprobado: 12/01/2016
2. A emergência do campo do Empreendedorismo Sustentável
4. Temas de estudo em empreendedorismo sustentável no Brasil
RESUMO: A disseminação do conceito de desenvolvimento sustentável, visando reduzir impactos ambientais e sociais, levou estudiosos a explorarem formas do empreendedorismo contribuir com a sustentabilidade. Empreendedores passaram a ser percebidos como capazes de transformar e criar estruturas institucionais que possibilitem a exploração de oportunidades sustentáveis. Assim, surge o empreendedorismo sustentável integrando as dimensões econômica, ambiental e social. Este artigo busca descrever e analisar a publicação brasileira sobre empreendedorismo sustentável em periódicos científicos. Este é um campo de pesquisa crescente nos últimos dez anos, com um número pequeno de pesquisadores envolvidos na sua investigação. Foram identificados alguns temas centrais nessa produção. |
ABSTRACT: The dissemination of the concept of sustainable development, aiming at reducing environmental and social impacts, has led researchers to explore ways that entrepreneurship can contribute to sustainability. Entrepreneurs are seen as capable of transforming and creating institutions that allow the exploration of sustainable opportunities. Thus arises sustainable entrepreneurship integrating economic, environmental and social dimensions. The paper aims to describe and analyze the Brazilian scientific production about sustainable entrepreneurship. It is a research field that has been growing in the past ten years, with a small number of researchers. Central themes in this literature were identified. |
A disseminação do conceito de desenvolvimento sustentável estimulou a modificação de práticas organizacionais, a fim de buscar reduzir impactos ambientais e sociais causados e agir de maneira consistente com as expectativas da sociedade. O reconhecimento da participação das organizações para fortalecer os processos ecológicos e sociais fez com que estudiosos explorassem formas de como o empreendedorismo poderia contribuir, por meio de suas ações, para a meta do desenvolvimento sustentável (Parrish, 2010). Este argumento se justifica, vez que empreendedores passaram a ser percebidos como aqueles que possuem a capacidade de transformar e criar estruturas institucionais que possibilitem a exploração de oportunidades sustentáveis (Pacheco et al. 2010).
Nesse sentido, é possível afirmar que empreendedores que procuram identificar e explorar oportunidades advindas do ambiente natural e social encontram-se relacionados ao empreendedorismo sustentável. Este tipo de empreendedorismo, diferente da perspectiva econômica voltada apenas à obtenção de lucro, busca criar valores sociais e ambientais por meio da produção de bens e serviços e de atividades que corroboram o desenvolvimento sustentável (Shepherd, Patzelt, 2011).
Portanto, é possível argumentar que empreendedorismo sustentável busca gerir o triple bottom line por meio do equilíbrio das dimensões econômica, ambiental e social em suas ações e atividades empreendedoras (Kuckerts, Wagner, 2010; Schaltegger, Wagner, 2011). Constata-se que a literatura internacional vem discutindo a ideia de empreendedorismo sustentável desde o começo do século XXI (Keijzers, 2002; Lordkipanidze et al., 2005; Crals, Vereeck, 2005). Da mesma forma, na literatura brasileira o tema tem atraído a atenção recentemente, com o primeiro trabalho publicado em 2005 (Silveira et al. 2005).
A partir desses aspectos, o objetivo desse artigo é descrever e analisar a publicação brasileira sobre empreendedorismo sustentável em periódicos científicos. Para esse fim, o texto está estruturado em quatro seções, além dessa introdução. Na próxima seção, é apresentada a emergência do campo do empreendedorismo sustentável, a partir dos principais conceitos tratados pelos autores pioneiros no tema. A terceira seção apresenta os procedimentos e critérios de busca adotados no levantamento das publicações brasileiras. A quarta seção descreve e analisa as contribuições teóricas e empíricas dessa produção. Por fim, nas considerações finais sintetizam-se os principais temas discutidos na literatura brasileira sobre empreendedorismo sustentável e sugerem-se novos aspectos para investigações futuras.
O conceito de desenvolvimento sustentável passou a receber maior atenção a partir da segunda metade do século XX (Rogers et al. 2008) quando publicações como a do Clube de Roma (Meadows et al. 1972) e o Relatório de Brundtland (WCED, 1987), além de diversos outros provenientes das conferências organizadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), alertaram para os problemas ambientais e sociais agravados ou negligenciados pela ordem econômica vigente centrada no acúmulo de capital.
Até então, tal conceito ainda prevalecia no ambiente macroeconômico, envolvendo países, governos e instituições internacionais (Steurer et al. 2006). Sua adaptação ao meio organizacional foi intensificada quando Elkington (1997) cunhou o termo Triple Bottom Line (TBL), uma combinação mais específica e adaptada ao contexto organizacional. O conceito de desenvolvimento sustentável neste meio, a partir de então, ficou atrelado às metas de criação conjunta de valor econômico, social e ambiental (Elkington, 1994, 1997).
O argumento de que as organizações empresariais são estruturas propícias para a disseminação das práticas do desenvolvimento sustentável está relacionado com a sua ampla presença nas diversas sociedades, bem como sua capacidade financeira de atuação (Hart, 2005). Tilley e Young (2009) salientam que as empresas que prezam pelos princípios do desenvolvimento sustentável em sua atuação são capazes de repensar suas formas de gestão, o que influencia na reestruturação de processos.
Além da reformulação das estruturas organizacionais existentes, novas oportunidades de negócios e tipologias de empreendedorismo se manifestam por influência do desenvolvimento sustentável (Parrish, 2008; 2010; Schaltegger, Wagner, 2011). Destaca-se o empreendedorismo social, focado na criação de valor social (Mair, Martí, 2006; Peredo, McLean, 2006, Austin et al. 2006); o empreendedorismo ambiental, relacionado ao desenvolvimento de inovações capazes de solucionar os problemas ambientais (Schaltegger, 2002; Dixon, Clifford, 2007); e o empreendedorismo sustentável, cuja abrangência inclui ações sociais, ambientais e econômicas e, portanto, abarcam de forma mais completa os preceitos do desenvolvimento sustentável (Dean, McMullen, 2007; Hall et al. 2010; Shepherd, Patzelt, 2011; Thompson et al. 2011).
Diante disso, Dyerson e Preuss (2012) relacionam os campos de inovação e empreendedorismo sustentáveis como convergentes em quatro níveis de análise: i) individual: a importância dos valores pessoais, conhecimentos e habilidades para praticar a sustentabilidade; ii) firma: tornar a sustentabilidade parte da cultura de inovação e empreendedora das firmas; iii) setorial: disseminar amplamente e buscar a legitimação de tecnologias sustentáveis; e iv) sociedade: buscar oportunidades de inovações radicais e a sustentabilidade como valor base para o empreendedorismo.
Destaca-se que o conceito de empreendedorismo sustentável utilizado neste artigo segue a proposta feita por Hockerts e Wustenhagen (2010, p. 482) que o compreende como "a descoberta e exploração de oportunidades econômicas por meio da geração de desequilíbrios de mercado que iniciam a transformação de um setor para um estado social e ambientalmente mais sustentável". Por meio dessas ações, os empreendedores sustentáveis transformam e criam estruturas institucionais que permitem explorar oportunidades sustentáveis que reduzem impactos ambientais e sociais negativos criados pela prática insustentável de alguns negócios (Pacheco et al. 2010; Hall et al. 2010).
Para Hall et al. (2010), os negócios deveriam estar pautados na noção de que todos os sistemas naturais têm limites e que o bem estar humano requer viver dentro deles. Para tanto, é preciso que haja práticas, por meio das quais empreendedores possam criar simultaneamente crescimento econômico, enquanto se avança para objetivos ambientais e melhoria das condições sociais. Dessa forma, por meio do empreendedorismo, poderiam ser criados meios pelos quais as falhas do mercado, tais como interrupções ambientais e sociais, poderiam ser melhoradas, vez que "quanto mais incerto e intratável o problema ambiental, maior probabilidade de que os empreendedores podem contribuir para resolvê-lo" (Hall et al. 2010, p. 444).
Neste sentido, Schaltegger e Wagner (2011) destacam que o próprio mercado demanda inovações capazes de alcançar objetivos sociais e ambientais e as organizações/empreendedores devem estar atentas a isso para que atinjam objetivos de desenvolvimento sustentável. Com isso, o empreendedorismo sustentável reúne as estratégias capazes de gerar benefícios ambientais e sociais dentro das organizações ou fora de suas estruturas, reduzindo a centralidade dada à eficiência nos negócios, para priorizar as metas do desenvolvimento sustentável (Young, Tilley, 2006).
Os valores preconizados pelos empreendedores com atuação direcionada à sustentabilidade estão relacionados aos 'princípios de perpetuação', destacados por Parrish (2010). Isso implica na prática de manutenção da qualidade dos recursos naturais e humanos pelo maior tempo possível, na busca de mais benefícios a cada etapa operacional dos seus processos. Também, os empreendedores sustentáveis dedicam-se a múltiplos objetivos, baseiam-se na administração qualitativa em detrimento a uma visão quantitativa, distribuindo benefícios aos indivíduos pela meritocracia e não baseados no poder que detém. À vista disso, a prática do empreendedorismo sustentável é considerada um motor para atingir o desenvolvimento sustentável (Young, Tilley, 2006; Parrish, 2010; Hall et al. 2010; Schaltegger, Wagner, 2011).
No que se refere às publicações sobre empreendedorismo sustentável, observa-se um crescimento progressivo no número de artigos publicados nos últimos anos. Pesquisa realizada na base de dados Web of Science considerando-se os últimos quinze anos, com os termos de busca "sustainability" e "entrepreneurship" para o campo tópico, que inclui título, resumo e palavras-chave, encontrou 220 artigos. Entre 2002 e 2009, o número de publicações anuais não passou de 10. A partir de 2010, houve um nítido aumento, passando para aproximadamente 30 ao ano até 2013. Essa tendência de crescimento se manteve em 2014 e 2015, com mais de 40 artigos para cada ano. O aumento nas publicações de empreendedorismo sustentável pode ser verificado na Figura 1.
Figura 1: Publicações anuais de 2001 a 2015 sobre empreendedorismo sustentável.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Desta forma, a Figura 1, demonstra a evolução do número de publicações anuais sobre o tema de empreendedorismo sustentável encontrados na Web of Science entre 2001 e 2015. Na próxima seção, são descritos os procedimentos adotados para recuperar a produção brasileira sobre o tema.
A busca dos trabalhos sobre empreendedorismo sustentável publicados no Brasil foi feita em duas bases de periódicos: a Scientific Periodicals Electronic Library - SPELL (www.spell.org.br) e a Scientific Electronic Library Online – SCIELO.BR (www.scielo.br). A primeira apresenta artigos científicos publicados em 94 periódicos brasileiros nos campos da Administração, Contabilidade, Economia, Engenharia e Turismo. A segunda é mais abrangente e conta atualmente com 320 periódicos indexados em oito grandes áreas de conhecimento: Ciências Agrárias, Ciências Biológicas, Ciências da Saúde, Ciências Exatas e da Terra, Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Engenharias e Linguística, Letras e Artes.
Para localizar os artigos disponíveis nas duas bases foram usados os seguintes termos conjugados: Empreendedorismo e Sustentabilidade; Empreendedorismo e Sustentável; Empreendedor e Sustentabilidade; Empreendedor e Sustentável; Empreendedorismo e Ecodesenvolvimento; Empreendedor e Ecodesenvolvimento; Criação de Empresas e Sustentabilidade; Criação de Empresas e Sustentável; Empreendimento e Sustentável; e Empreendimento e Sustentabilidade. A busca foi feita também com as variações em inglês dos termos destacados anteriormente. Quanto ao campo de pesquisa, no caso da SPELL, foram utilizados os índices de Título de Documento, Resumo e Palavras-chave e fez-se a restrição de tipo de documento para Artigo. Para a busca na SCIELO.BR foram utilizados os mesmos termos nos índices Palavras do Título, Assunto e Resumo, sem restrição de tipo de documento. Para as duas bases não houve restrição em termos de período de tempo, pois a intenção era tentar localizar o maior número possível de artigos.
Foram encontrados 57 artigos na SPELL e 22 na SCIELO.BR. Depois de verificada as sobreposições das duas bases, o resultado final foi de 74. O passo seguinte foi selecionar os que de fato tratavam de aspectos relacionados ao empreendedorismo sustentável. Esta seleção foi baseada na leitura dos resumos de cada artigo. Dessa forma, chegou-se a um conjunto de 23 textos que foram analisados para descrever sobre o que já se publicou no Brasil no campo do empreendedorismo sustentável.
Os principais motivos de exclusão dos artigos se relacionaram ao fato de que muitos deles não tratavam da sustentabilidade na forma aqui adotada, isto é, envolvendo as dimensões econômica, social e ambiental. Alguns textos foram excluídos por não se relacionarem diretamente ao empreendedorismo, mas a diversos aspectos de gestão, como, por exemplo, Lemos et al. (2009) e Stael e Pinto (2007). Houve instâncias em que o descarte ocorreu apenas após a leitura dos artigos. Este foi o caso dos que abordavam o empreendedorismo social, tais como, Vidal et al. (2005), Nassif et al. (2010), Flory et al. (2013), Silva et al. (2013). Apesar desses textos abordarem questões de empreendedorismo e sustentabilidade, isto não foi feito de forma integrada, ou seja, articulando as três dimensões social, ambiental e econômica. Por fim, alguns textos tratavam de aspectos agronômicos ou de engenharia da sustentabilidade, sendo excluídos por não terem relação direta com o empreendedorismo.
Na próxima seção faz-se a descrição e análise dos artigos publicados no Brasil sobre a temática do empreendedorismo sustentável. Para cumprir essa finalidade, a seção foi dividida em quatro partes: a) análises e proposições conceituais; b) estudos empíricos sobre empreendedorismo sustentável; c) estudos sobre práticas de sustentabilidade na gestão empreendedora; e d) temas centrais do empreendedorismo sustentável nos estudos brasileiros.
O empreendedorismo sustentável é um tema de estudo recente no Brasil. Na Tabela 1 estão listados os periódicos e o número de artigos publicados sobre o tema. Como se pode observar, não há periódico que tenha sobressaído como canal de disseminação do tema, sendo evidenciada a publicação em 17 revistas científicas brasileiras, entre as quais apenas quatro tiveram mais de um artigo publicado sobre o assunto. O primeiro ano em que se encontrou um artigo sobre empreendedorismo sustentável foi 2005. Entre esse ano e 2010 foram encontrados oito trabalhos. Os quinze restantes se distribuíram entre 2011 e 2015. De um período para o outro, a produção brasileira sobre empreendedorismo sustentável praticamente dobrou.
Tabela 1: Produção Científica sobre Empreendedorismo sustentável no Brasil
Periódico |
Artigos |
Ano |
Revista de Negócios |
1 |
2005 |
Cadernos EBAPE.BR |
1 |
2008 |
Revista de Ciências da Administração |
1 |
2008 |
Revista Gestão Organizacional |
1 |
2009 |
Teoria e Prática em Administração |
1 |
2011 |
REUNA |
1 |
2012 |
Revista de Administração |
1 |
2012 |
Revista de Administração da UNIMEP |
1 |
2012 |
Revista Economia e Gestão |
1 |
2012 |
Revista de Administração Mackenzie |
1 |
2013 |
Revista de Gestão Social e Ambiental |
1 |
2014 |
Revista Pensamento Contemporâneo em Administração |
1 |
2014 |
Navus Revista de Gestão e Tecnologia |
1 |
2015 |
Revista de Administração Pública |
2 |
2006; 2014 |
Revista de Administração da UFSM |
2 |
2012; 2014 |
Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas |
2 |
2013; 2014 |
Revista da Micro e Pequena Empresa |
4 |
2007; 2008; 2009; 2015 |
Fonte: Elaborado pelos autores.
Não foi encontrado pesquisador com produção volumosa relacionada a este assunto, ao menos em termos de publicações brasileiras. O conjunto de artigos encontrados foi produzido por 61 autores. Entre estes, apenas duas tiveram mais de um artigo publicado: Rivanda Meira Teixeira, da Universidade Federal de Sergipe, com dois artigos e Tânia Nunes da Silva, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com três. Esta fragmentação na produção sugere que o tema seja ainda emergente na academia brasileira, sem a presença de grupos de pesquisa consolidados.
Entre os textos analisados, houve um que trouxe resultados de levantamentos bibliográficos sobre o tema do empreendedorismo relacionado ao desenvolvimento sustentável. Embora o texto de Raufflet et al. (2014) tenha sido escrito por três autores canadenses, decidiu-se por mantê-lo nessa análise devido ao fato de ser um caso de revisão e classificação de artigos sobre empreendedorismo sustentável.
Raufflet et al. (2014) trazem uma análise de mais de uma centena de textos publicados entre 1998 e 2002 tratando de desenvolvimento sustentável e empreendedorismo. Nesse volume de textos, 60 eram artigos científicos que foram analisados na íntegra pelos autores. Os demais eram outros tipos de publicações que tiveram apenas seu resumo verificado. A emergência do campo do empreendedorismo sustentável, segundo os autores, deu-se pela junção de dois campos recentes – desenvolvimento sustentável e empreendedorismo – e ocorreu nos anos 90. Para eles, "a partir dos anos 2000, duas tendências parecem se configurar, tendo de um lado o ecoempreendedor e do outro o empreendedor em desenvolvimento sustentável" (Raufflet et al. 2014, p. 8). Por extensão, pode-se considerar então a possibilidade de um ecoempreendedorismo, preocupado com o impacto de atividades empreendedoras sobre o meio ambiente, e de um empreendedorismo sustentável que, além dessa preocupação, também se orienta pela busca de solução para questões sociais mais amplas, em especial o equilíbrio e justiça no acesso aos frutos da ação empreendedora.
Um conjunto de reflexões sobre o ensino de empreendedorismo e sua relação com o desenvolvimento sustentável é apresentado por Degen (2008). O texto, de caráter altamente prescritivo, sugere que as escolas técnicas e universidades devem direcionar o ensino de empreendedorismo para pessoas já graduadas e focando no empreendedorismo por oportunidade, que é orientado para o desenvolvimento sustentável e a redução da pobreza. Por outro lado, para o autor, o empreendedorismo por necessidade pode auxiliar na redução da pobreza extrema.
No trabalho que abre uma edição especial da Revista de Administração dedicada ao tema do empreendedorismo social, Fischer e Comini (2012) discorrem sobre a evolução da ideia de responsabilidade social das empresas para o conceito de empreendedorismo. Embora com o adjetivo social para qualificar o empreendedorismo que querem discutir, nota-se que as autoras adotam um conceito mais amplo que considera a busca da sustentabilidade em suas três dimensões: econômica, social e ambiental. Para elas, o desafio que se coloca é como manter uma coerência e convergência de metas ambientais, sociais e econômicas para evitar que uma delas se sobreponha às demais. Para isso, argumentam sobre a necessidade de se visualizar o empreendedorismo em uma perspectiva ampliada para que o exercício do papel empreendedor torne-se possível em uma vasta gama de contextos organizacionais.
Para Boszczowski e Teixeira (2012, p. 109), o empreendedorismo sustentável "envolve a identificação, criação e exploração de novos negócios que encontrem no desenvolvimento econômico, a solução de um problema ambiental e social". A partir dessa concepção, as autoras se propõem a discutir como oportunidades de negócios sustentáveis podem se originar de problemas ambientais e sociais, bem como analisar os fatores que influenciam a percepção dessas oportunidades por empreendedores. Nesse sentido, a partir de considerações sobre as perspectivas economicistas e cognitivas do empreendedorismo, sugerem que as oportunidades de negócios sustentáveis são aproveitadas quando um empreendedor, baseado em seus conhecimentos e experiências anteriores, cognitivamente relacionam seu conhecimento aos meios de satisfazer uma causa social e ambiental.
Borges et al. (2013) apresentam uma tipologia de empreendedorismo sustentável. Esta tipologia baseia-se em três critérios que consideram se o negócio explora uma oportunidade ambiental ou social, se a sustentabilidade é vista como meio de obter ganhos financeiros ou é objetivo do novo empreendimento, e a adoção ou não para o novo empreendimento dos princípios da responsabilidade social empresarial. No entanto, a tipologia proposta preserva a separação entre aspectos ambientais e sociais, apesar de ressalvar a possibilidade de surgirem empreendimentos que atendam ambas as dimensões. Por fim, a proposição tem como foco a criação de novos empreendimentos, não se reportando ao intraempreendedorismo ou empreendedorismo corporativo.
A vinculação da universidade com o desenvolvimento sustentável é proposição de Casado et al. (2012). Para estes, é necessário que as universidades desenvolvam um plano estratégico que estabeleça um conjunto de ações visando a articulação dos atores internos e externos para a promoção de atitudes empreendedoras que se voltem ao desenvolvimento sustentável. No entanto, o artigo tem um caráter fortemente prescritivo, sem uma base conceitual claramente articulada. Isto faz com que sua contribuição para o empreendedorismo sustentável seja muito reduzida.
O primeiro artigo tratando da questão do empreendedorismo sustentável relata resultados iniciais de uma pesquisa-ação cujo objetivo era apoiar o desenvolvimento de um arranjo produtivo local (APL) de turismo sustentável na localidade de Nova Rússia, uma comunidade rural do município de Blumenau, em Santa Catarina (Silveira et al. 2005). Baseado na concepção de turismo sustentável, que engloba aspectos sociais, ambientais e econômicos, o projeto envolveu oito empreendedores da localidade, atuantes de uma organização não governamental – Nova Rússia Preservada – que participaram das discussões iniciais de planejamento e desenvolvimento do APL. Do ponto de vista do entendimento do empreendedorismo sustentável, as contribuições desse estudo são muito limitadas, pois o projeto relatado estava ainda em seus estágios iniciais. De qualquer forma, segundo as autoras, os empreendedores revelaram ter consciência da necessidade de estabelecimento de governança coletiva para o APL e da observância de princípios que preservassem o ambiente e trouxessem, ao mesmo tempo, benefícios sociais e econômicos para a comunidade.
A importância do empreendedor e seus valores para a prática do empreendedorismo sustentável foi analisada por Delgado et al. (2008). Em um estudo de caso de uma fazenda produtora de arroz seguindo os princípios da agricultura biodinâmica, os autores apontaram como inovações de produto, processo e de canais de comercialização foram implantados a partir da percepção de oportunidades e demandas de mercado. Embora o foco principal da análise se relacione à dimensão ambiental da sustentabilidade, o estudo também apontou preocupações e iniciativas do empreendedor com aspectos sociais, em especial a busca de uma relação mais socialmente justa com os empregados da fazenda.
Dalmoro (2009) abordou o empreendedorismo sustentável em empresas incubadas. Tendo por unidade de análise os gestores das empresas incubadas, o estudo revelou que os entrevistados demonstraram alta preocupação com o pilar econômico da sustentabilidade, com pouca presença do ambiental. Quanto ao social, este se fez presente frente a questões éticas e impacto do produto na sociedade. Embora o contexto do estudo seja original, suas limitações de abordagem e análise fazem com que pouco contribua para um melhor entendimento do empreendedorismo sustentável.
Maurer e Silva (2011) descrevem um estudo voltado à identificação da influência de parcerias interorganizacionais na promoção do que denominaram empreendedorismo socioambiental de natureza coletiva. Essa finalidade foi atingida pelo estudo de três empreendimentos dedicados à produção de artesanato com matéria-prima natural. Tal conceito se assemelha ao de empreendedorismo sustentável, mas apresenta em sua forma de operação um caráter mais coletivo, consistente com a economia solidária e por princípios de sustentabilidade social, cultural, ambiental e econômica. Segundo as autoras, os casos analisados compartilham na gênese o estímulo de políticas públicas federais e estaduais e o estabelecimento de parcerias com universidades e empresas privadas utilizando recursos públicos. Estas parcerias permitiriam às organizações nascentes enfrentar desafios relacionados à "comercialização, agregação de valor nas peças, capacitação em termos administrativos, formação de recursos humanos e conhecimentos tecnológicos" (Maurer, Silva, 2011, p. 58).
A análise da trajetória de desenvolvimento de uma localidade permitiu apontar para a relação entre empreendedorismo sustentável e ação coletiva voltada para o desenvolvimento (Kuyumjian et al. 2014). Apesar destes autores utilizarem o termo empreendedorismo social para analisar se sua prática levou a melhorias de ordem social, econômica, política, ambiental, educacional e gerencial, este trabalho trata do que estamos denominando empreendedorismo sustentável. A partir de uma abordagem qualitativa, Kuyumjian et al. (2014) descrevem a percepção de moradores do Morro do Jaburu em Vitória, capital do Espírito Santo, a respeito de oito aspectos presentes nas ações empreendedoras da comunidade: a existência de esforços de capacitação para a gestão local; criação de uma esfera participativa institucional; práticas de diagnóstico, planejamento e definição de prioridades para estabelecimento de um pacto de desenvolvimento; articulação entre a demanda local e as propostas de governo; fortalecimento da sociedade civil; apoio ao surgimento de empreendimentos sustentáveis; utilização de mecanismos de monitoramento e avaliação de resultados; e sustentabilidade do processo de empreendedorismo social. Em síntese, o estudo revelou que as ações de empreendedorismo praticadas têm catalisado o desenvolvimento local, mas "apesar de toda e qualquer 'conquista' alcançada ao longo destes últimos anos, os patamares mínimos desejados por todos os sujeitos desta pesquisa, relacionados à saúde, educação, lazer, cultura, meio ambiente, economia e infraestrutura, estão significativamente distantes de serem atingidos" (Kuyumjian et al. 2014, p. 1.522).
As proposições de Boszczowski e Teixeira (2012), em conjunto com outras referências, orientaram o estudo fenomenológico de dois empreendedores sustentáveis na cidade de Aracaju, capital sergipana (Freitas, Teixeira, 2014). O estudo, por meio do método da história oral, demonstrou semelhanças e diferenças na identificação de oportunidades de negócios sustentáveis. A análise das duas histórias mostrou que as dimensões sociais e ambientais podem apresentar um caráter dual no processo de identificação de oportunidades. Para os dois casos analisados, estas colocaram limites e também propiciaram estímulos para a ação empreendedora sustentável.
Um trabalho de natureza quantitativa buscou identificar a relação entre orientação empreendedora e desempenho sustentável em micro, pequenas e médias empresas do Rio Grande do Sul (Abadde et al. 2014). A estratégia de levantamento permitiu obter dados com dirigentes de 140 empresas industriais com o uso de escalas que mensuraram as dimensões de orientação empreendedora – inovatividade, proatividade e atitude face ao risco – e as dimensões do desempenho sustentável – econômica, social e ambiental. O estudo revelou que inovatividade está associada com desempenho ambiental e desempenho social associou-se a desempenho econômico. No entanto, proatividade e atitude face ao risco não demonstraram ter relação com nenhuma das dimensões de desempenho, assim como inovatividade que, ao contrário de outros estudos, não se mostrou relacionada com desempenho econômico. Por fim, desempenho ambiental também não esteve associado a desempenho econômico. Uma contribuição importante do trabalho de Abadde et al. (2014) reside na adaptação e validação de escalas para orientação empreendedora e desempenho ambiental em língua portuguesa.
Outros trabalhos que abordam diversas dimensões do empreendedorismo sustentável foram encontrados, mas com pouca contribuição para o entendimento seja conceitual ou empírico desse fenômeno. Por exemplo, Santos e Concheto (2009) descrevem a proposição de uma organização não governamental cujo objetivo seria apoiar o desenvolvimento de empreendedores sociais e dar suporte técnico aos empresários de micro e pequenas empresas de Campo Limpo Paulista. Este texto, por outro lado, parece tratar do mesmo projeto relatado por Garó et al. (2007). Causou estranheza o fato de que os dois trabalhos compartilham, além do mesmo objeto de análise, parágrafos textualmente idênticos ao longo de seu conteúdo. De qualquer forma, a contribuição de ambos os textos restringe-se à possível criação de uma incubadora, com caráter de organização não governamental, que poderia apoiar empreendimentos sustentáveis, argumentando pela viabilidade da mesma e adequação aos princípios do desenvolvimento sustentável.
Também de impacto limitado foi o artigo publicado por Mendonça et al. (2012), que apresenta o estudo de viabilidade mercadológica, econômica e financeira para implantação de uma fábrica de sabão ecológico. Além do aspecto ambiental, o projeto se enquadrou como de empreendedorismo sustentável por focar na geração de emprego e renda no formato de economia solidária. Segundo os autores, o estudo permitiu demonstrar a possibilidade de usar uma ferramenta do plano de negócio em um empreendimento social sustentável.
Embora, a rigor, o empreendedorismo deva ser visto como um fenômeno distinto da gestão, visto que o primeiro está relacionado à criação de empreendimentos e a segunda diz respeito à manutenção e crescimento dos empreendimentos, na literatura encontra-se uma zona de penumbra que costuma tratar de forma similar esses dois fenômenos. Isto se deve ao fato de que o empreendedorismo pode ocorrer como ações de inovação e desenvolvimento de novos empreendimentos em organizações existentes. Dessa forma, nesta parte são descritos os artigos que tratam de tópicos referentes à prática da sustentabilidade na gestão de empreendimentos.
Souza e Sampaio (2006) adotam o termo ecodesenvolvimento como o norteador de análise de processos decisórios em organizações turísticas que buscam superar a lógica econômica racional e utilitarista, incorporando aspectos da sustentabilidade e responsabilidade social empresarial. Para eles, o termo desenvolvimento sustentável foi banalizado pela literatura especializada, razão porque escolheram adotar a noção de ecodesenvolvimento como "desenvolvimento socialmente mais justo, ecologicamente prudente e economicamente macroeficiente (sustentável para a maioria da população)" (Souza, Sampaio, 2006, p. 413). Todavia, no caso das secretarias municipais de turismo que foram analisadas, os autores apontam limitações à prática da sustentabilidade, visto que estas desconhecem ou distorcem o significado de turismo sustentável por não aplicarem processos participativos que envolvam a comunidade local. Assim, segundo Souza e Sampaio, (2006, p. 420), as secretarias deixaram de considerar que a atividade turística sustentável, "além de beneficiar o trade (negócio) turístico local também beneficia social, ambiental e economicamente as comunidades autóctones".
Por outro lado, na análise de ações de responsabilidade social empresarial, Souza e Sampaio (2006) verificaram que todas as organizações que as implantaram eram de grande porte. Além disso, o foco dos resultados estava muito centrado no curto prazo e, aparentemente, a participação da comunidade restrita à fase da implementação das ações. No entanto, apesar dessas limitações, os autores encerram sua análise em um tom otimista ao concluírem que "as experiências que foram analisadas, mesmo se ainda houve dúvidas da existência de mais equívocos do que êxitos, possuem elementos que incorporam os conceitos de turismo sustentável e responsabilidade social empresarial" (Souza, Sampaio, 2006, p. 422). E alertam que, em tempos de mudanças paradigmáticas, devem-se analisar novas experiências de forma a não inibir a emergência de conceitos que ainda estão sendo construídos, como é o caso do desenvolvimento sustentável ou ecodesenvolvimento.
Também no setor de atividades turísticas, Oliveira e Rossetto (2014) relatam as conclusões de estudo com abordagem qualitativa, realizado com gestores de seis meios de hospedagem. Estes empreendimentos estão localizados em três destinos turísticos brasileiros e obtiveram certificação em sustentabilidade pela NBR15401: 2016 que especifica requisitos relativos à sustentabilidade de meios de hospedagem (Oliveira, Rossetto, 2014). A análise das entrevistas demonstrou que a adoção de práticas de sustentabilidade surgiu a partir da consciência dos gestores conjugada com a influência de programas governamentais e objetivos mercadológicos. Em síntese, estas decisões geraram impactos positivos na imagem dos meios de hospedagem e permitiram redução de custos, melhorando o desempenho organizacional.
Em uma perspectiva de análise quantitativa, Pimentel et al. (2012) pesquisaram o nível de incorporação da sustentabilidade empresarial em 33 empresas industriais participantes de um programa de capacitação no Ceará. Os dirigentes dessas empresas apontaram suas percepções sobre um conjunto de afirmações a respeito da adoção de práticas de sustentabilidade, econômica, social e ambiental. Na análise dos resultados, Pimentel et al. (2012) evidenciaram que tais dirigentes encontram-se em um nível intermediário de sustentabilidade, com boa aderência aos princípios da dimensão econômica. Mas, em relação às dimensões sociais e ambientais, os resultados mostraram um nível menor de aderência, com leve predomínio de preocupações sociais.
O estudo de Alvarenga et al. (2013) explorou a presença de práticas de desenvolvimento sustentável em um arranjo produtivo local de móveis localizado em Marco, no interior do Ceará. Com base em um enfoque qualitativo, entrevistas com seis empreendedores e observação direta permitiram aos autores identificar a presença de práticas de sustentabilidade em duas dimensões apenas. A partir do modelo Triple Bottom Line, foram observadas práticas nas dimensões ambiental e econômica, ao passo que na dimensão social estas não estiveram presentes.
Em uma vertente semelhante, Barbosa et al. (2015) investigaram a percepção que gestores de micro e pequenas empresas tinham sobre a sustentabilidade e sua efetiva aplicação em seus empreendimentos. Dados foram coletados por meio de questionários respondidos por 58 dirigentes de micro e pequenas empresas das cidades de Cafelândia e Ubiratã no Oeste do Paraná, participantes do programa de treinamento 'Bom Negócio Paraná'. Os resultados apontaram que 86,2% dos respondentes tinham um conhecimento avaliado como médio sobre sustentabilidade. Além disso, 93,1% dos respondentes demonstraram concordância com a noção de sustentabilidade composta por dimensões sociais, ambientais e econômicas. E 62,1% dos gestores apontaram que as preocupações da sociedade em torno da sustentabilidade podem representar oportunidades de ganho para suas empresas. No que diz respeito à prática da sustentabilidade nas empresas, os gestores responderam a cinco questões que se relacionavam apenas à dimensão ambiental da sustentabilidade. Em média, 77,9% deles confirmaram que essas práticas estavam presentes em suas organizações.
Ainda nessa vertente, Lengler e Silva (2008) exploraram as percepções sobre a sustentabilidade e sua relação com atitude empreendedora de dirigentes de associações de apicultores do Rio Grande do Sul. A abordagem de pesquisa foi qualitativa e baseou-se em entrevistas com doze dirigentes de três associações. Mais uma vez, embora os entrevistados reforcem a importância da prática da sustentabilidade de forma integral, relataram que as associações que dirigem focam com muito mais ênfase a dimensão econômica. As dimensões social e ambiental da sustentabilidade são pouco praticadas pelos apicultores vinculados às três associações. No que diz respeito à atitude empreendedora, a maioria deles é mediana. Todavia, a natureza do estudo relatado não permite estabelecer uma relação entre essas duas categorias analisadas.
Sehnem et al. (2015) apresentam os procedimentos operacionais para elaboração de um relatório de sustentabilidade para pequenas e médias empresas. Este é um trabalho de natureza eminentemente prática que, embora tenha seu valor, sua contribuição para a compreensão das motivações e limitações da prática da sustentabilidade é muito limitada. Nesse sentido, o texto ressalta a falta de recursos humanos para monitoramento dos indicadores de sustentabilidade em empresas desse porte.
Consistente com as premissas do Triple Bottom Line, a coerência e convergência de metas ambientais, sociais e econômicas de forma a evitar que qualquer delas se sobreponha às demais no papel do empreendedor foi ressaltada por Fischer e Comini (2012). Da mesma forma, Barbosa et al. (2015) e Souza e Sampaio (2006) comentaram e evidenciaram esta busca de equilíbrio entre as três dimensões.
Entretanto, alguns estudos demostram diferentes abordagens à sustentabilidade, sendo a econômica a mais destacada. Por exemplo, Boszczowski e Teixeira (2012) ressaltam que oportunidades de negócios sustentáveis podem se originar de problemas ambientais e sociais, algo que possibilita o desenvolvimento econômico, e demonstram uma lógica oposta a Fischer e Comini (2012), tendo unicamente no desenvolvimento econômico a possibilidade de identificar, criar e explorar novos negócios. Raufflet et al. (2014) argumentam também que o empreendedorismo vincula-se a aspectos como a inovação a partir de falhas de mercado. Essa lógica de aproveitar oportunidades, conforme Pimentel et al. (2012) e Lengler e Silva (2008), está na boa aderência relacionada aos princípios da dimensão econômica, sendo as dimensões social e ambiental de pouca relevância.
Outros estudos enfatizam a dimensão social, além da econômica. Nesse sentido, Delgado et al. (2008) ressaltam preocupações e iniciativas do empreendedor com aspectos sociais. Degen (2008) trata o ensino de empreendedorismo e sua relação com o desenvolvimento sustentável, uma vez que o ensino leva a práticas evolutivas e de redução da pobreza. Isso também foi demonstrado por Kuyumjian et al. (2014) na relação entre empreendedorismo sustentável e ação coletiva voltada para o desenvolvimento local.
A prática de parcerias em diferentes níveis foi relacionada ao empreendedorismo sustentável. Por exemplo, Maurer e Silva (2011) tratam das parcerias interorganizacionais para a promoção e/ou desenvolvimento comercial e agregação de valor no produto. Também, Oliveira e Rossetto (2014) compreendem que a adoção de práticas de sustentabilidade surgiu da consciência dos gestores conjugada com a influência de programas governamentais.
O objetivo desse artigo foi descrever e analisar a produção científica sobre empreendedorismo sustentável publicada no Brasil. Constatou-se que este campo de pesquisa surgiu há pouco mais de dez anos no país e, portanto, tem ainda um número pequeno de pesquisadores envolvidos na sua investigação, bem como uma reduzida quantidade de textos publicados como evidenciado no decorrer deste trabalho.
Não obstante, foi possível perceber que há alguns temas centrais nessa produção que se referem a: a) busca do equilíbrio entre as dimensões ambiental, social e econômica no empreendedorismo sustentável; b) ênfase na adoção da lógica de mercado como explicação da exploração de oportunidades de empreendedorismo sustentável; e c) articulação de parcerias interorganizacionais na prática do empreendedorismo sustentável.
Por fim, entende-se que o empreendedorismo sustentável, assim como ocorreu com a literatura internacional, tem possibilidade de se tornar um campo de estudo vigoroso no Brasil. Nessa direção, sugere-se que novos temas de estudos sejam incorporados às pesquisas da comunidade brasileira. Por exemplo, destaca-se que não houve preocupação entre os estudiosos brasileiros em pesquisar o processo de criação de empreendimentos sustentáveis. Esta é uma área de oportunidade que pode ser explorada, em especial, por meio de estudos comparativos com empreendimentos comerciais. Outro aspecto pouco explorado na literatura brasileira é a motivação dos empreendedores sustentáveis. O que leva as pessoas a empreenderem observando os princípios do desenvolvimento sustentável? Por enquanto, há somente explicações vinculadas a oportunidades de mercado. Mas, pode ser que haja outras motivações que levem à criação de empreendimentos sustentáveis. Uma terceira linha de investigação que parece promissora é o entendimento de razões de sucesso e fracasso no empreendedorismo sustentável. Pesquisas sobre esse tema podem orientar as pessoas que pretendam empreender de forma sustentável.
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1.Mestre em Administração e estudante do curso de Doutorado em Administração da Universidade Federal do Paraná – thalitanny@gmail.com
2. Mestre em Administração e estudante do curso de Doutorado em Administração da Universidade Federal do Paraná – rodrigolms.silva@gmail.com
3. Mestre em Administração e estudante do curso de Doutorado em Administração da Universidade Federal do Paraná – edc.carli@gmail.com
4. Mestre em Administração pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, estudante do curso de Doutorado em Administração da Universidade Federal do Paraná e professor adjunto do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná - luizaureliovirtuoso@yahoo.com.br
5. Estudante do curso de Mestrado em Administração da Universidade Federal do Paraná - paulohpreto@gmail.com
6. Doutor em Administração (Manchester Business School - University of Manchester) e professor titular do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Paraná - fapgimenez@gmail.com