Espacios. Vol. 36 (Nº 23) Año 2015. Pág. 13

Territorialidade Econômica e Estratégias das Empresas Globais do Setor Agroindustrial no Mato Grosso do Sul

Territoriality Economic and Strategies of Enterprises Global of the Agroindustrial Sector in Mato Grosso do Sul

Thiago da Silva MELO 1; Lisandra Pereira LAMOSO 2

Recibido: 10/08/15 • Aprobado: 30/09/2015


Contenido

1. Introdução

2. Caracterização e Estratégias Das Tradings Agrícolas em Mato Grosso do Sul

3. Atuação Da Adm, Bunge E Cargill Em Mato Grosso Do Sul

4. Considerações Finais

Referências Bibliográficas


RESUMO:

As exportações de soja, realizadas sobre as decisões hegemônicas das principais empresas globais do setor agroindustrial, formam uma territorialidade econômica no estado de Mato Grosso do Sul. Esta pesquisa tem como finalidade levantar dados sobre a exportação dessas empresas e mapear onde estão posicionadas, investigando a relação entre suas localizações e o sistema de engenharia utilizado para escoar a produção, empregando os conceitos de Competitividade, Logística, Rede e Territorialidade. Como metodologia, levantamos dados junto ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) sobre os volumes e os fluxos das exportações obtidos pelas empresas pesquisadas, elaboramos mapa e realizamos revisão bibliográfica sobre a temática.
Palavras-chave: Territorialidade; Infraestrutura; Empresas globais.

ABSTRACT:

Soy exports, performed on the hegemonic decisions of the leading global companies in the agro-industrial sector, form an economic territoriality in the state of Mato Grosso do Sul. This research aims to collect data on the export of these companies and to map where they are positioned, investigating relationship between their locations and the engineering system used to drain the production, employing the concepts of competitiveness, Logistics, Network and territoriality. The methodology it was raise data from the Ministry of Development, Industry and Trade (MDIC) on volumes and flows of exports achieved by the companies surveyed, we prepared map and perform literature review on the topic.
Keywords: Territory; Infrastructure; global companies.

1. Introdução

O presente trabalho se originou a partir do aprofundamento teórico-metodológico do plano de Iniciação Científica intitulado Comércio exterior e territorialidade econômica das unidades exportadoras de grãos no Mato Grosso do Sul, (MELO; LAMOSO, 2011) que integrou o projeto de pesquisa: Comércio exterior, empresas e interações espaciais. (LAMOSO, 2013).

Desde 2009 as discussões geradas pela pesquisa sobre o uso do território pelos principais grupos exportadores de Mato Grosso do Sul têm levantado novas indagações e este trabalho é parte dessas preocupações em compreender a economia de exportação no estado do Mato Grosso do Sul.

Tendo como principal foco as empresas globais do setor agroindustrial exportadoras de soja: ADM do Brasil, Bunge e Cargill que figuram entre as que mais exportaram nos últimos anos em Mato Grosso do Sul, como podemos observar no quadro 1:

Tabela empresas

Quadro 1. Participação percentual das principais empresas exportadoras no Mato Grosso do Sul.
Fonte: SECEX /MDIC, Organização: Thiago da Silva Melo.

Ao analisarmos o quadro, podemos constatar que há pouca variação tanto na pauta exportadora quanto nas empresas mais representativas, que são aquelas ligadas ao complexo da soja (ADM, Seara Alimentos, Cargill Agrícola, Bunge Alimentos), produtos pecuários como carne bovina (frigoríficos Bertin, JBS, Minerva), mineradoras (Urucum Mineração e Mineração Corumbaense Reunidas) e o recente aparecimento da exportação de açúcar e álcool (Tavares de Melo) e Celulose (Fíbria, Eldorado).

Os dados são representativos por evidenciarem que as principais empresas exportadoras estão ligadas ao setor primário da economia, ou seja, com pouco valor agregado e sendo industrializada fora do estado.

Para compreendermos as escolhas das empresas globais do setor agroindustrial em se territorializarem no Mato Grosso do Sul e as estratégias que adotam, uma análise preliminar da bibliografia foi fundamental na busca por caminhos que nos direcionassem para a compreensão dos questionamentos que foram surgindo.

Cinquetti (2008) aborda a participação das empresas internacionais nas exportações brasileiras e como elas têm sido determinantes nos resultados superavitários embora se concentrem em produtos de baixa intensidade tecnológica.

A pesquisa realizada por Fortuna (2006), para o Mato Grosso, discute as territorialidades econômicas criadas baseadas na produção agrícola e industrial tecnificada, nas quais a logística assume um papel crescente na redução de custos.

Segundo análise feita por Giordano (1999), a cultura da soja age como vetor da formação sócio espacial de novas áreas de produção agrícola, havendo uma inserção competitiva das regiões no período técnico-científico e informacional que fica bastante instigante para o nosso objeto de pesquisa.

Sobre a Cargill, a leitura de Toledo (2005) foi elucidativa por ajudar a desvendar as estratégias e as formas de territorialização dessa empresa global e como se dá o uso corporativo do território brasileiro nos Circuitos Espaciais Produtivos da soja, da laranja e do cacau e dos Círculos de Cooperação no Espaço decorrentes destes circuitos.

Dessa forma, nossa finalidade é levantar dados sobre a exportação das empresas globais do setor agroindustrial no Mato Grosso do Sul bem como mapear onde se localizam, discutindo a partir destas duas evidências suas estratégias de territorialização e o papel da competitividade sobre a dinâmica do ordenamento territorial que as mesmas promovem.

A pesquisa não pretende ter como ponto de partida a produção da soja, sua área plantada e os volumes obtidos, mas trabalhar com o que nos parece poder desvendar as decisões e os processos envolvidos. Para isso, foram utilizados os conceitos de Territorialidade, Redes, Logística e Competitividade como suporte analítico para o desenvolvimento dessa pesquisa.

A Territorialidade se expressa no conhecimento sobre como transportar a mercadoria, qual a melhor logística e como obter a melhor competitividade. Ela resulta de estratégias espaciais adotadas pelos grupos exportadores. A Logística é compreendida como "estratégia de planejamento e gestão da circulação e das comunicações" (SILVEIRA, 2009, p. 14). A Competitividade será utilizada segundo a definição de Porter (1993) que extrapola a teoria das vantagens comparativas para acrescentar as densidades técnicas e as estratégias das empresas em sua atuação no território, território esse que pertence a um país cuja formação econômica deve ser considerada.

As Redes tem dupla dimensão, como rede técnica e como rede urbana. As redes técnicas implantadas a serviço das empresas são a base material para sua atuação e a rede urbana reúne características de acessibilidade que possibilitam uma aceleração dos fluxos3 sobre o território. O texto de Dias (2005), que considera a rede como um recorte espacial possível para compreender a organização do espaço contemporâneo, será um ponto de partida. Essas redes se complementam configurando os "circuitos produtivos" e os "circuitos de cooperação", conforme proposto por Santos (1994, p. 128), para quem "as cidades são definidas como pontos nodais, onde estes círculos de valor desigual se encontram e se sobrepõe" e funcionam como "fronts agrícolas", na expressão de Frederico (2009). Estes conceitos, brevemente apresentados, serão o ponto de partida teórico dessa investigação.

Um dos momentos primordiais durante o nosso processo de investigação científica foi a metodologia empregada. Segundo Nossa (2005) esta etapa compreende-se como um processo interligado de procedimentos, convergidos na problemática do acesso, tratamento e emprego dos dados e informações.

 A metodologia deve ser construída tendo em vista alguns elementos como: a definição dos tipos de dados a serem utilizados, os meios como os coletamos, a exploração, análise e interpretação dos mesmos e por fim a validação das hipóteses levantadas.

A pesquisa foi desenvolvida entre agosto de 2010 e julho de 2011 sendo retomada entre julho de 2014 e junho de 2015, nesse período, como fontes de pesquisa foram utilizadas bibliografias, como livros publicados sobre a temática, dissertações de mestrado, teses de doutorado e artigos publicados em periódicos especializados no assunto.

Foram levantados dados junto ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), através do acesso à sua página eletrônica, referentes à exportação de Mato Grosso do Sul e mais especificamente os resultados obtidos pelas empresas pesquisadas, esses dados disponibilizam os volumes e fluxos das exportações por empresas, sendo utilizados a partir de 2004.

A partir desses dados foi possível também a elaboração de mapas no laboratório de Geoprocessamento da Universidade Federal da Grande Dourados-MS, para localizarmos as empresas estudadas bem como estabelecermos relação com a estrutura rodoviária do estado, utilizada para o escoamento da produção.

2. Caracterização E Estratégias Das Tradings Agrícolas Em Mato Grosso Do Sul

O setor agroindustrial sul-matogrossense se caracteriza pela presença de poucas, porém grandes empresas multinacionais e cooperativas nacionais oriundas principalmente do Paraná que dominam esse mercado:

Diante das condicionantes desse mercado, o setor mostra-se concentrado pela presença de poucas empresas multinacionais, o ABCD da soja – composto pelas ADM, Bunge, Cargill e Dreyfus – e algumas cooperativas principalmente Coamo Carol e Comigo. (FAJARDO, 2007, p. 5-6)

A presença de poucas empresas no setor, é decorrente do exercício de suas territorialidades compostas por redes de logística, armazenagem e de unidades de industrialização, em consonância com suas estratégias globais de crescimento.

A estratégia inicial adotada por esses empreendimentos multinacionais está na aquisição de empresas que já operavam no país, adentrando o território e se apropriando de uma estrutura já existente e diminuindo também a concorrência por extinguir as empresas anteriores, por isso, o mercado agroindustrial, na fase monopolista do capital, se caracteriza por ser fortemente oligopolizado:

Os últimos anos são emblemáticos porque são o teatro das grandes fusões tanto no domínio da produção material como no da produção de informação. Essas fusões reduzem o número de atores globais e, ao mesmo tempo a partir da noção de competitividade, conduzem as empresas a disputarem o menor espaço, a menor fatia do mercado. SANTOS, 1999, p. 11)

Essas empresas como a ADM, a Bunge e a Cargill atuam como tradings4 agrícolas, caracterizadas pelas operações comerciais que realizam principalmente para a comercialização de commodities e que passam a atuar também no setor agroindustrial.

Apesar de suas principais áreas de atuação serem no processamento de soja e milho e na produção de óleos vegetais e margarinas, essas empresas também detém o controle de importantes marcas de alimentos, fertilizantes, agribusiness, químico, têxtil, entre outros, o que evidencia o domínio de toda a cadeia produtiva.

Siffert Filho e Faveret Filho (1998, p. 268) evidenciam também estratégias aparentemente contraditórias dessas multinacionais, que buscam a industrialização de produtos que transmitam sua identidade, e ao mesmo tempo, expandam sua área de atuação para o ramo sucroalcooleiro e de fertilizantes:

Entre as estratégias empresariais, destacam-se a busca por especialização, centrando as atividades da empresa em seu core business, e a diversificação (estratégia antagônica à especialização), representando o ingresso em novos mercados, os quais tanto podem ser relacionados (diversificação concêntrica) ou não com as atuais atividades (diversificação conglomerada). De modo geral, as estratégias de especialização têm recebido maior atenção por parte das empresas, embora não seja desprezível o movimento de diversificação de alguns grupos.

Em Mato Grosso do Sul, a atuação das tradings se concentra na produção e exportação da soja, principalmente como commodity, ou seja, proveniente de grãos e farelo, sua transformação em óleo ocorre em outros lugares, sendo assim, a soja exportada possui pouco valor agregado.

Em nível nacional verifica-se que a soja é exportada também em sua maioria enquanto commodity, a ABIOVE (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), estimou para o Brasil em 2011 a cifra de 22.631 milhões de dólares FOB em exportação, sendo 15.552 milhões de dólares provenientes da soja em grão, 5.429 milhões de dólares do farelo de soja e 1.650 milhões de dólares do óleo de soja. Em volume, estima-se que 32.400 (mil toneladas) sejam exportadas em grão, 14.100 (mil toneladas) em farelo e apenas 1.500 (mil toneladas) industrializados como óleo que possui maior valor agregado em relação às duas primeiras. Com relação à possível rentabilidade por tonelada exportada, espera-se que o valor corresponda a 480 milhões de dólares/tonelada) para a soja exportada em grão, 385 milhões de dólares/tonelada para a exportação em farelo e 1.100 milhão de dólar/tonelada) para o óleo de soja.

Analisando-se a rentabilidade por tonelada exportada se percebe a grande diferença de preço entre a soja em grão, em farelo e o óleo industrializado, ou seja, o valor agregado ao produto exportado geralmente é baixo devido propriamente ao mercado em que está inserido:

O mercado de grãos é tipicamente caracterizado como um mercado de commodities, sendo a busca pela minimização de custos a estratégia dominante. Economias de escala e capacidade de originação de grãos são as principais variáveis que proporcionam vantagens competitivas. (MARINO, SCARE; ZYLBERSZTAJN, 2002, p. 5-6).

Nesse sentido, a localização das empresas globais do setor agroindustrial no Mato Grosso do Sul assume uma importância fundamental em suas estratégias, como podemos observar na figura 1.

Localização ADM, Bunge e Cargill

Figura 1. Localização das sedes das tradings e as principais rodovias no Mato Grosso do Sul.

  Podemos observar que a localização das empresas é estratégica visando o escoamento da produção para a exportação pelo porto de Paranaguá-PR pela BR 163 que corta o estado no sentido norte-sul.

As três empresas têm suas sedes estabelecidas nos dois maiores municípios do estado, Dourados e Campo Grande, evidenciando que a utilização da infraestrutura urbana também é um aspecto relevante para estabelecerem sua localização.

Dessa forma, se apropriam da estrutura construída, utilizando-se da infraestrutura de energia e logística oferecidas pelo Estado como estradas, portos, aeroportos e usinas hidrelétricas, para construir sua própria territorialidade:

O território para tais empresas não passa daquele conjunto de pontos e manchas necessários para a realização de suas atividades e que lhes dá as possibilidades de competir eficazmente nos mercados internacionalizados. O uso agrícola praticado no território nacional então se submete, em grande parte, a uma lógica das empresas globais e, por conseguinte, a uma lógica global. Na medida em que tal uso é desigual, podemos também inferir que o território passa a ter um uso hierárquico e assim torna-se competitivo. (TOLEDO, 2005, p. 17)

A localização e a apropriação das infraestruturas são partes fundamentais da lógica das empresas globais para o exercício da competitividade na busca para aumentar suas esferas: "A lógica do dinheiro das empresas é a lógica da competitividade, que faz com que cada empresa tornada global busque aumentar a sua esfera de influência e de ação, para poder crescer". (SANTOS, 1999, p. 11)

Nesse sentido, cabe destacar a atuação do Estado, subsidiando a construção e manutenção da infraestrutura que atenda os interesses das grandes empresas do setor agroindustrial como destaca Toledo (2005, p. 127):

A construção ou melhoramento de rodovias, estradas de ferro e hidrovias se dá em função das necessidades e intencionalidades das grandes empresas, ou seja, são constituídos para seu privilegiado. Emerge a cooperação entre empresas atuantes no mesmo setor para a concretização do imperativo da fluidez e a realização das exportações.

Foi nesse sentido que o Estado elaborou o Plano Diretor de Transportes do Mato Grosso do Sul (2000-2020) com o objetivo de construir, recuperar e duplicar rodovias para aumentar a integração no estado:

O Plano Diretor de Transportes de Mato Grosso do Sul, bem como todo o sistema de planejamento do Estado, prevê a evolução econômica estadual por um período de 20 anos (2000 a 2020). Assim sendo, com as propostas de construção, recuperação, manutenção e duplicação de rodovias (em cerca de 3.500 km), para uma ligação efetiva entre os diversos pólos de desenvolvimento do Estado e desses com as regiões produtoras, possa ser aumentada a eficiência dos transportes de modo a permitir a expansão da fronteira agrícola e o surgimento de novos pólos produtivos no estado. (GARDIN, 2008, p. 89)

Os esforços do Estado na manutenção e ampliação da malha rodoviária pode ser compreendido quando observamos que 69% dos produtos são exportados por este modal. (GARDIN, 2008)

É a partir da análise da infraestrutura constituída que o planejamento em logística se norteia, assumindo um papel importante por aumentar a eficiência através da otimização de rotas, dos recursos, do tempo de percurso e da gestão no armazenamento e movimentação de informações e mercadorias. (SILVEIRA, 2009)

Uma infraestrutura eficiente de transportes é necessária para escoar a produção, pois, em Mato Grosso do Sul, a atuação das tradings se concentra na produção e exportação da soja, principalmente como commodity, ou seja, proveniente de grãos e farelo, sua transformação em óleo ocorre principalmente em outros estados e até mesmo fora do país como é o caso da China.

Por isso, a utilização de fixos5 se torna indispensável, pois a produção no território se dá na perspectiva de uma lógica global, ou seja, a produção dos campos brasileiros atende principalmente às demandas do mercado internacional.

Quanto aos países de destino da soja produzida no Brasil, se localizam principalmente na União Européia, como no caso da França e da Alemanha, servindo principalmente para a alimentação dos rebanhos da pecuária intensiva, e na Ásia, a China vem se configurando como grande importadora dessa matéria-prima, utilizando-a como principal fonte de proteína na sua dieta e no abastecendo as indústrias agroalimentares.

De maneira geral, as estratégias das empresas se concentram na redução dos custos de logística como o transporte e a armazenagem dos grãos, sendo esse o principal diferencial na concorrência entre as empresas do setor. Por isso, como já dito, as tradings em Mato Grosso do Sul se localizam às margens da BR 163, escoando sua produção para o porto de Paranaguá-PR por onde a soja é exportada.

3. Atuação Da Adm, Bunge E Cargill Em Mato Grosso Do Sul

A partir dos anos 2000, as empresas globais do setor agroindustrial expandiram consideravelmente sua produção e capacidade de processamento para a exportação no estado de Mato Grosso do Sul.

Entre os fatores podemos destacar a crescente demanda do mercado internacional, de lucratividade, incentivos fiscais e a recuperação de importantes rodovias no estado que possibilitaram maior e mais rápido escoamento da produção.

A soja é exportada do estado como comodity (em grão ou farelo), Início do conteúdocujos preços são fixados nas Bolsas de Mercadorias internacionais, que leva em conta os movimentos de demanda e oferta no mundo. Existindo grande flutuação de preços o que torna muito difícil estimar a receita que será obtida, assim, o estado produtor pode ser afetado por perdas substanciais e repentinas.

É nesse contexto que Mato Grosso do Sul vem aumentando significativamente suas exportações sob a liderança da ADM do Brasil, Bunge e Cargill que entre 2004 e 2014 mais que quadruplicaram seus valores exportados do estado. (Ver gráfico 1).

Gráfico 1. Evolução das exportações da ADM, Bunge e Cargill (em US$ F.O.B) no Mato Grosso do Sul.
Fonte: SECEX /MDIC, Organizado por: Thiago da Silva Melo.

A partir da análise dos dados apresentados na Figura 2, podemos perceber o intenso crescimento dos valores exportados por essas empresas na última década, mesmo com a crise de 2008.

Podemos observar através do gráfico como a concorrência entre as empresas, principalmente ADM e Bunge, ocorre de maneira bastante acirrada evidenciando a constante competitividade e a ampliação por ampliação de suas atuações.

O crescimento das exportações foi possível pelo aumento da produtividade em função de avanços técnico-científicos aliados a novas políticas e planos econômicos que possibilitaram a expansão das unidades produtivas e de armazenagem das empresas globais no estado.

A ADM do Brasil passou a operar nas cidades de Campo Grande, Caarapó, Maracaju, São Gabriel do Oeste e Pedro Gomes. No ano de 2009 a unidade da ADM localizada no município de Pedro Gomes passa também a exportar a produção da empresa na região, o que demonstra a intenção da mesma em expandir ainda mais suas atividades no estado.

A Bunge opera nas cidades de Campo Grande, com capacidade para o processamento de 98.400 toneladas de soja, Dourados com 103.600 toneladas, Sidrolândia com 18.000 toneladas, Sonora com capacidade de 45.000 toneladas, Chapadão do Sul com 35.000 toneladas, Maracaju com capacidade de 60.000 toneladas e São Gabriel do Oeste com 42.000 toneladas. (Ver gráfico 2)

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Gráfico 2. Capacidade de processamento (em ton) da Bunge no Mato grosso do Sul em 2009.
Fonte: Bunge, Organizado por: Thiago da Silva Melo.

Podemos perceber a grande capacidade de processamento das cidades do interior do estado, não coincidentemente as mesmas se localizam junto ao eixo da BR 163 ou da Ferronorte.

A Cargill opera nas cidades de Dourados, Caarapó, Três Lagoas, Maracaju, Sidrolândia, Chapadão do Sul e São Gabriel do Oeste. Entre as tradings estudas a Cargill foi a que mais expandiu sua atuação no estado de Mato Grosso do Sul, desde 2006 a empresa passou a exportar de mais três cidades Sidrolândia, Chapadão do Sul e São Gabriel do Oeste, além de aumentar consideravelmente a cifra exportada de Três Lagoas.

4. Considerações Finais

A dinâmica de ordenamento espacial promovida pela ADM do Brasil, Bunge e Cargill em mato Grosso do Sul está diretamente relacionada à territorialidade econômica que estas empresas exercem.

A estratégia locacional dessas empresas é parte fundamental de suas estratégias competitivas, por isso, em Mato Grosso do Sul verificamos que estão localizadas junto à BR 163, principal corredor de exportação para o porto de Paranaguá-PR, por onde a soja é embarcada com destino, principalmente, para a Europa e China, tendo o Estado um papel fundamental na manutenção da infraestrutura que dá suporte à territorialidade dessas empresas.

Dessa forma, essas empresas passaram a ter grande importância e a exercer influência constituindo suas territorialidades formando redes de logística, armazenagem e unidades de industrialização sempre ligada a estratégias globais.

Referências Bibliográficas

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1. Mestrando em Geografia pela Universidade Estadual de Londrina-PR. E-mail: thiago_dasilvamelo@yahoo.com.br.

2 Pós doutora em Geografia pela UFRJ. Docente na graduação e pós-graduação em Geografia na Universidade Federal da Grande Dourados-MS. E-mail: lisandralamoso@ufgd.edu.br.

3 Fluxo: Para Santos (2002) os fluxos são movimentos, energia, transportes, informações, comunicações e os serviços. Outros fluxos ocorrem, ainda, em planos abstratos, como os fluxos de capital e remessas de lucro, as informações que circulam o mundo.

4 Sobre a definição das tradings e suas diferenças perante as demais empresas Fajardo (2007, p. 265) é mais elucidativo: "O que distingue a ação de uma trading agrícola das demais empresas são as operações comerciais voltadas principalmente a comercialização de commodities agrícolas. Entre essas commodities o peso da comercialização da soja é evidente. E as principais tradings do mercado de soja são algumas multinacionais do agronegócio, verdadeiras empresas globais concentrando a comercialização do produto no Brasil."

5 Conforme evidenciado por Santos (2002), de todos os objetos que existem em uma cidade, aqueles que estão fixados no solo, como os prédios, estradas, pontes e demais construções humanas são os fixos. Os elementos fixos são os objetos físicos propriamente ditos, como prédios, por exemplo.


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