Espacios. Vol. 36 (Nº 22) Año 2015. Pág. 20

Preocupações ambientais e percepção de professores sobre as consequências adversas do consumo

Environmental worries and perception of teachers on adverse consequences of consumption

Hérica Maria Saraiva MELO 1; Denis Barros de CARVALHO 2

Recibido: 30/07/15 • Aprobado: 12/08/2015


Contenido

1. Introdução

2 Materiais e métodos

3 Resultados e discussão

4 Considerações finais

Referências


RESUMO:

Este artigo identifica as preocupações ambientais e as percepções acerca das consequências adversas de professores de uma escola técnica. Os resultados demonstraram que predomina a visão antropocêntrica na relação com o meio ambiente, sendo este percebido como recurso e como problema. Verificou-se que a intenção de agir dos professores nem sempre se reflete em ação e que as preocupações ambientais são baseadas em eventos que os afetem em curto prazo. Foram obtidas variáveis relacionadas à percepção ambiental (natureza, recurso, problema e lugar em que se vive) e à percepção acerca de si enquanto consumidor (preocupado, indiferente e alienado).
Palavras-chave: Consumo. Preocupações ambientais. Percepção

ABSTRACT:

This article identifies environmental worries and the perception about adverse consequences of teachers in a technical school. The results show that predominates the anthropocentric view in relation to environment where it is perceived as a resource as well as a problem. It was verified that the teachers intention not always reflects on action and their worries are based on events that affect them in a short period of time. Variables were obtained related to environmental perception (nature, resource, problem and living place) and perception about them as consumers (worried, indifferent and alienated).
Key-words: Consumption. Environmental worries. Perception.

1. Introdução

Após a Revolução Industrial, o mundo vem a conhecer profundas modificações, especialmente no que concerne à vida cotidiana da população. Na interação do ser humano com o meio ambiente predomina a busca de ganhos financeiros em detrimento da preservação da natureza. Leff (2001) destaca que a racionalidade econômica baniu a natureza da esfera da produção, gerando processos de degradação. Há alterações em todos os setores da vida humana, como hábitos, costumes diários, configuração espacial das cidades (Duarte Jr., 2006). Sendo assim, parte-se do entendimento de que "todas as chamadas questões ambientais são na verdade questões 'humano'-ambientais [e estas, por sua vez, protagonizam] não uma crise 'ambiental', mas uma crise das 'pessoas-nos-ambientes'" (Pinheiro, 1997, p. 377).  Atualmente, as práticas de consumo fazem o elo entre o indivíduo e o meio social (Costa; Teodósio, 2011) e são reconhecidas como cotidianas e executadas nas necessidades ilimitadas dos consumidores (Barbosa, 2010).

Diante da escassez e da possibilidade de finitude dos recursos naturais, é imprescindível que haja transformações nos comportamentos de consumo. É preciso que os consumidores percebam as consequências de suas escolhas e passem a adotar hábitos de consumo menos prejudiciais (Peixoto; Pereira, 2013). Entretanto, constata-se a relação sempre dicotômica do consumidor entre conservar o meio ambiente e/ou atingir seus interesses pessoais.

A preocupação ambiental refere-se às atitudes ecológicas frente aos assuntos ambientais (Thompson; Barton, 1994) e vem sendo objeto de estudos (Kilbourne; Polonsky, 2005; Milfont; Duckitt; Cameron, 2006). Apesar disso, a dimensão da "preocupação ambiental" permanece ambígua (Xiao; Dunlap, 2007). Pode ser resumida nas crenças que os indivíduos possuem sobre os riscos e ameaças associados à situação atual e futura de um ou mais aspectos da natureza que podem acabar afetando os indivíduos. Surge como reação às consequências adversas dos impactos das ações humanas no meio ambiente (Schultz, 2001).

As pessoas se preocupam e tendem a se comportar em prol do meio ambiente quando se sentem ameaçadas pelas consequências adversas para as coisas que valorizam (Hansla et. al., 2008). No Brasil, é indicada a aplicação de modelos que levem em conta as dimensões ideológicas da preocupação ambiental, como por exemplo, as influências do antropocentrismo, do ecocentrismo e da apatia ambiental, desenvolvidos por Thompson e Barton (Corral-Verdugo; Pinheiro, 1999).

É importante ressaltar que cada indivíduo age sobre o meio ambiente de forma diferenciada. Soares (2005, p. 10) menciona que "as percepções revelam o modo como se vive e se planeja o espaço, é resposta das diferentes interações entre ser humano e meio ambiente".  Outra definição de percepção ambiental seria a apresentada por Ferrara (1993), como sendo os usos e hábitos que constituem a manifestação concreta do lugar urbano, na mesma medida em que o lugar é manifestação concreta do espaço. De forma que "tudo aquilo que sei do mundo, mesmo por ciência, eu o sei a partir de uma visão minha ou de uma experiência do mundo sem a qual os símbolos da ciência não poderiam dizer nada" (Merleau-Ponty, 1999, p. 3).

No estudo da percepção do conceito de meio ambiente no contexto da educação ambiental é emblemático o trabalho de Sauvé (2005) que delimita seis categorias da percepção do conceito de meio ambiente, a saber: natureza, recurso, problema, lugar para ser vivido, local a ser dividido e proposta comunitária. A partir do exposto, este estudo pretende responder à seguinte questão: Como se caracterizam a preocupação ambiental e a percepção acerca das consequências adversas do consumo? A hipótese do estudo é que, de um modo geral, demonstrado pelo estudo de Beck (2010), as pessoas ainda não têm incorporado comportamentos em prol do meio ambiente em suas práticas cotidianas, embora afirmem que têm a intenção.

Dessa forma, são objetivos deste artigo: (a) Traçar as preocupações ambientais dos professores e (b) Identificar a percepção dos professores acerca das consequências adversas dos seus atos de consumo. Entende-se que os professores enquanto consumidores e formadores devem repensar suas posturas. "É comum encontrar alunos admirados com a maneira de ser e de agir, de um de seus professores" (Dela Coleta, Dela Coleta; Guimarães, 2005, p. 25).

2. Materiais e métodos

A pesquisa foi desenvolvida no Colégio Técnico de Teresina (CTT), vinculado à Universidade Federal do Piauí (UFPI) e oferta ensino básico, técnico e tecnológico. Para investigar as preocupações ambientais e as percepções acerca das consequências adversas de consumo dos professores do CTT foi empregada a metodologia qualitativa, de caráter exploratório, permitindo ao investigador aumentar sua experiência em torno do problema, buscando seus antecedentes e um maior conhecimento (Gil, 1996).

A amostra classificou-se como sendo não probabilística intencional, caracterizada pela seleção não aleatória. Sendo assim, optou-se por trabalhar com professores, uma vez que além de serem consumidores são formadores de opiniões e exercem um papel estratégico na construção de uma consciência ambiental. Outro fator que merece destaque é a importância que a educação tem no enfrentamento da crise ambiental e por ser um instrumento poderoso de política ambiental. Os professores não têm opção de não serem educadores ambientais, conforme dispõe a Política Nacional de Educação Ambiental e as Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Ambiental (Brasil, 1999).

O atual quadro docente do CTT é formado por 41 professores, entretanto 34 professores estão em exercício e atuam em três cursos técnicos de áreas distintas, a saber: Agropecuária (Modalidade concomitante com o Ensino Médio e subsequente), Enfermagem (subsequente) e Informática (subsequente). Os professores estão divididos por área, da seguinte forma: 14 no Ensino Médio, 8 na Enfermagem, 8 na Agropecuária e 4 na Informática. A fim de garantir a heterogeneidade intergrupal, foram selecionados através de sorteio. O perfil dos participantes do estudo foram 12 professoras e 6 professores (Quadro 1).

 

Quadro 1 – Perfil dos professores entrevistados

Professor Entrevistado

Grupo 1 (Ensino Médio)

Gênero

Faixa etária

Nível de escolaridade

Área de Formação

Tempo de docência

P1

Feminino

40 a 49

Especialização

Letras

21 anos

P2

Masculino

30 a 39

Mestrado

Matemática

8 anos

P3

Feminino

50 a 59

Especialização

Biologia

20 anos

P4

Feminino

50 a 59

Doutorado

Biologia

35 anos

P5

Feminino

30 a 39

Especialização

Educação Física

2 anos

P6

Masculino

30 a 39

Mestrado

Inglês

17 anos

P7

Feminino

30 a 39

Especialização

Espanhol

9 anos

P8

Masculino

30 a 39

Mestrado

Física

12 anos

Professor Entrevistado

Grupo 2 (Agropecuária)

Gênero

Faixa etária

Nível de escolaridade

Área de Formação

Tempo de docência

P9

Feminino

40 a 49

Doutorado

Engenharia Agronômica

12 anos

P10

Feminino

40 a 49

Doutorado

Medicina Veterinária

8 anos

P11

Feminino

40 a 49

Doutorado

Engenharia Agronômica

5 anos

P12

Masculino

40 a 49

Doutorado

Medicina Veterinária

6 anos

Professor Entrevistado

Grupo 3 (Enfermagem)

Gênero

Faixa etária

Nível de escolaridade

Área de Formação

Tempo de docência

P13

Feminino

18 a 29

Especialização

Enfermagem

1 ano

P14

Feminino

50 a 59

Mestrado

Enfermagem

29 anos

P15

Feminino

30 a 39

Doutorado

Enfermagem

12 anos

P16

Feminino

50 a 59

Mestrado

Enfermagem

25 anos

Professor Entrevistado

Grupo 4 (Informática)

Gênero

Faixa etária

Nível de escolaridade

Área de Formação

Tempo de docência

P17

Masculino

30 a 39

Mestrado

Ciências da Computação

7 anos

P18

Masculino

18 a 29

Especialização

Ciências da Computação

3 anos

Fonte: Dados da pesquisa.

A participação dos docentes foi voluntária e obteve-se o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), obedecendo à Resolução Nº 466/12. As entrevistas foram gravadas e duraram, em média, 30 minutos. O método para o tratamento dos dados foi baseado na abordagem qualitativa através da Análise de Conteúdo (AC) orientada por Bardin (2009), que possibilitou a construção de categorias, bem como a geração das variáveis. A AC temática consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação cuja presença ou frequência signifiquem alguma coisa para o objetivo analítico visado (Bardin, 2009; Minayo, 2003).

3. Resultados e discussão

3.1 Preocupações ambientais

Utilizando os conceitos testados por Thompson e Barton (1994), os comportamentos humanos tendem a estar relacionados a explorar os recursos naturais, mantê-los ou não se manifestam, caracterizando uma apatia ambiental. Estas definições são detalhadas na Figura 1 e são divididas em categorias e variáveis.

Figura 1 – Categorias e variáveis do tema "preocupações ambientais" dos professores do CTT/UFPI

Fonte: Dados da pesquisa.

Segundo o Instituto Akatu (2009), a possibilidade de uma pessoa antecipar o impacto direto que eventos podem causar para si, faz com que acarrete uma preocupação ambiental. As preocupações ambientais são atitudes ecológicas frente aos assuntos ambientais (Thompson; Barton, 1994) e podem ser resumidas nas crenças que os indivíduos possuem sobre os riscos e ameaças associados à situação atual e futura de um ou mais aspectos da natureza, uma vez que se "eu me preocupo com o meio ambiente, isso significa que eu me preocupo com o outro" (P1).

Por isso, entende-se que a preocupação ambiental surge como reação às consequências adversas dos impactos das ações humanas no meio ambiente (Schultz, 2001). No entanto, ainda não se sabe de que forma a preocupação ambiental influencia o comportamento de consumo, já que está inserida em uma sociedade globalizada e, aparentemente, mais individualizada. Constata-se que a preocupação com o meio ambiente existe, embora as declarações denotem a ausência de ações, ou seja,"eu me preocupo, me preocupo, observo. Faz alguma coisa pra mudar? Não. Faz a sua parte? Não" (P9).

O tema Preocupações ambientais foi explorado a partir de dois eixos de questionamentos: (1) conhecimento acerca dos problemas ambientais considerados mais graves e (2) a relação da degradação ambiental com os atuais níveis de consumo. Buscou-se identificar como as atitudes de preservação e conservação variam, ora relacionadas aos valores antropocêntricos ou ecocêntricos, ora ou a nenhum deles (apatia), corroborando com o estudo de Beck (2010). Cabe destacar que as atitudes antropocêntricas estão baseadas nos efeitos que os problemas ambientais estão causando nos seres humanos, enquanto as atitudes ecocêntricas se baseiam em valores intrínsecos da natureza (Schultz, 2001).

A categoria Ecocentrismo está dividida em: (a) soberania da natureza e (b) preocupações altruístas ou biosféricas. Quanto à variável (a), destaca-se a premissa de que a natureza é uma dimensão de valor intrínseco. "Eu não considero aceitável o homem intervir na natureza" (P1); "aceitável só se não prejudicar a natureza" (P15) e "a gente tem que tá sempre procurando um método, um meio de ter desenvolvimento, mas sem degradar a natureza" (P18). Esta lógica preza valores ecocêntricos e aceita que os recursos naturais são bens finitos e que o equilíbrio ecológico é frágil e facilmente abalado pelo comportamento humano (Dunlap et. al., 2000). Os discursos corroboram a visão do ambientalismo radical, que é contra o paradigma antropocêntrico de que o homem pode dominar a natureza (Egri; Pinfield, 2010). P11 acredita que os problemas ambientais são uma cadeia e que um desencadeia em outro. Por exemplo, "quando eu desmato, não é só aquela árvore que eu tô tirando [...] tô tirando insetos que vivem dela, tô tirando o pássaro que se alimenta e outras espécies que estão ali que a gente nem conhece [...] na realidade é todo um processo".

A variável (b) está relacionada às inquietações com a coletividade, com todos os seres vivos e com o futuro. Nesse aspecto, "o homem deve intervir e modificar a natureza quando há uma necessidade coletiva desde que isso não venha a prejudicar o meio ambiente, a saúde e a vida da população" (P14). "A gente tem que tá sempre procurando um método, um meio de ter desenvolvimento, mas sem degradar a natureza" (P18).

Conforme as três orientações de valores que norteiam os comportamentos dos consumidores (Schultz, 2000, 2001; Snelgar, 2006; De Groot; Steg, 2008; Hansla et. al., 2008), tem-se que os valores altruístas e os biosféricos estão relacionados, respectivamente, aos outros ou ao planeta e indicam que não somente os seres humanos, mas todas as formas de vida são consideradas relevantes quando o assunto é preservar o meio ambiente. "Eu sempre tive essa preocupação. Não sei se é porque eu também fui criada na roça e sempre eu tive um contato muito direto com a natureza" (P11).

Para P6 deve haver um equilíbrio entre homem e natureza, sendo que a intervenção na natureza é aceitável para a "manutenção da raça humana, mas de um ponto que também não danifique o meio ambiente ao ponto de nos trazer problemas futuros e até mesmo atuais no sentido dessa intervenção ameaçar o meio ambiente e consequentemente ameaçar a sobrevivência da espécie humana". Há uma interligação entre homem e natureza. Percebe-se que os indivíduos com visão altruísta acreditam que as atitudes individuais possam provocar alterações substanciais de caráter global, afetando o bem-estar de todos no planeta.

Ressalta-se que a existência de "intervenções boas que o homem faz, recuperando aquilo que foi degradado [...] a gente pode manusear sem degradar" (P10). Para isso, existem as tecnologias, "para você intervir o mínimo possível para se chegar ao objetivo final que é produção de alimentos" (P11), uma vez que "se precisa produzir alimento, mas hoje se sabe que essa intervenção pode ser consorciada com esse ambiente" (P12). P10 acredita que "a gente pode fazer coisas que sejam benéficas tanto para o ser humano quanto para natureza" em uma intensidade "que não agrida tanto a natureza, que ela tenha tempo para se recuperar como é feito no manejo rotativo" (P16). P9 complementa a ideia quando afirma que "você pode ter grandes áreas de produção de cana utilizando, por exemplo, o manejo biológico das pragas da cana, porque aí vai ter o produto, mas vai minimizar o impacto daquele produto".

Destaca-se a ênfase nas preocupações com relação às futuras gerações "porque [no futuro] esses problemas vão ser piores. Essa falta de conscientização. Não é só porque a gente tem que a gente tem que usar porque de onde tira que não bota, aquilo ali pode ter escassez" (P5). "Eu acho que a intensidade é relativa, sabe. É até que não provoque um dano futuro, até que não comprometa as gerações futuras" (P9). Neste sentido, o consumidor consciente, segundo o instituto Akatu (2005), reconhece mais a relação do indivíduo com o "coletivo" e com as "gerações futuras" do que os outros consumidores.

P1, além de demonstrar preocupações de caráter altruísta com o futuro (descendentes), têm receios associados aos problemas globais, descrevendo estas inquietações com ênfase no respeito, na ética e na coletividade. Ao passo que "eu me preocupo porque eu me preocupo com as gerações futuras, eu penso nos meus netos daqui a alguns anos [...] eu penso neles sem ter água pra beber, eu penso neles vivendo num calor eterno, porque nosso planeta está ficando a cada ano mais quente" (P1), ainda há uma predominância individual. Observa-se que o receio quanto ao futuro dos seus descendentes foi mais enfatizado nos professores que já possuíam filhos ou mesmo "porque a gente pensa em ter filhos e netos e as gerações futuras podem ser prejudicadas" (P6).

Indivíduos que se preocupam com o coletivo identificam ameaças potenciais para as outras pessoas, que podem afetar o bem-estar e a qualidade de vida. É recorrente identificar a preocupação com o futuro de pessoas queridas, como filhos e netos pela incerteza do que virá pela frente, e a consequente sobrevivência e o bem-estar de seus familiares (Peixoto, 2012). Dessa forma, as preocupações altruístas aparecem sempre associadas ao próprio ser humano. Cumpre salientar que a visão antropocêntrica está bastante presente, pois o ser humano foi citado quase que exclusivamente como sendo o único afetado pelos problemas, demonstrando que o individualismo e as preocupações egoístas ainda estão muito presentes.

A categoria Antropocentrismo está dividida em duas subcategorias: (a) Soberania do homem e (b) Preocupações egoístas. O pensamento antropocêntrico dominante é sempre muito marcante, uma vez que "os tipos de intervenções que eu considero aceitáveis são aquelas que vão favorecer a nossa vida cotidiana" (P16, grifo nosso).  De acordo com os dados existentes sobre a evolução da humanidade no planeta, infere-se que o modo de vida contemporâneo é ainda, na sua essência, antropocêntrico. Inicialmente, elencam-se os problemas ambientais mais graves, citados pelos entrevistados, a saber: "o desmatamento [...] por conta de que as nossas florestas estão sendo altamente prejudicadas" (P1); "o lixo, porque o lixo, a atitude de como o lixo é colocado no meio ambiente, envolve vários problemas de desequilíbrio, diversos tipos de poluição. Poluição do solo, poluição do ar, poluição da água, e por ai vai, ou seja, um desequilíbrio total" (P3); "a água vai ser um problema ambiental grande também, a falta de água" (P2); "consumo de energia" (P4); "principalmente em Teresina, as queimadas, porque a cada ano piora, a nossa temperatura, a cada ano que passa fica mais seco e mais quente" (P13); "em relação a Teresina, tem um problema ambiental que me inquieta muito, que é a eutrofização do Poti [...]profissionalmente, me preocupa muito é a utilização de agricultura intensiva" (P9, F, Agropecuária); falta de saneamento básico (P14). 

Outro problema ambiental destacado está relacionado com as indústrias, pois "muitas ainda não têm um programa de gerenciar os resíduos [...] A outra questão é até com relação mesmo ao volume grande de veículos todo dia" (P16). Outros problemas ambientais citados foram: uso desordenado de defensivos químicos, busca pela qualidade de vida, descarte inadequado de componentes eletrônicos, nível de consumo exacerbado. "Eu considero grave o efeito estufa e o aquecimento global [...] a extração de recursos minerais sem limite" (P18). Para P4, tais problemas ambientais são gerados por um problema maior que é "a falta de consciência do próprio homem. Eu acho que no momento que o homem tiver a sensibilidade [...] e que ele passar a pensar que o que nós temos feito vai refletir no futuro, acho que ele vai ter um certo cuidado pra usar todos os recursos sem prejudicar o meio ambiente". Isso remete à importância das "práticas de educação ambiental, [pois] no momento em que ele [homem] é conscientizado e ele coloca em prática, aí ele já tá tendo uma intervenção positiva" (P3).

A variável (a) Soberania do homem está associada ao fato de o homem sentir-se o centro e o dominador da natureza. A quebra do paradigma antropocêntrico vigente e a migração para o ecocentrismo parece ainda complexa, uma vez que pressupõe a mudança de valores e atitudes, que se refletem, consequentemente, em alterações e questionamentos relacionados ao estilo de vida, mudanças na maneira de pensar e nos hábitos. Este fato é visível no momento em que o ser humano, visando somente ao seu próprio bem-estar, afirma que seus interesses e propósitos estão acima de quaisquer necessidades de outras espécies do planeta. "Não tem como a gente não intervir, de qualquer forma a gente intervém na natureza" (P11); "o homem, ele modifica a natureza, basta que ele esteja presente no ambiente" (P2). Este pensamento de poder dominar os recursos disponíveis e modificar a natureza é atribuído a diversos fatores históricos como, por exemplo: os descobrimentos de novas terras durante o século XVI, bem como a crença pregada pela religião cristã de que o homem foi concebido à imagem e semelhança de Deus sendo, portanto, capaz de dominar as outras criaturas. Incluem-se ainda: o surgimento do mercantilismo e do capitalismo, a industrialização e o desenvolvimento das capacidades científicas e tecnológicas, bem como a aceleração do progresso da civilização humana (Dunlap et. al., 2000).

A fala que segue ratifica a posição de superioridade do homem sobre a natureza e demonstra que existe a crença de que o homem irá se adaptar, pois as intervenções na natureza visam ao seu próprio proveito, ou seja, é "interessante que o homem utilize os recursos naturais de forma sustentável pra que ele possa aproveitar em benefício próprio" (P4). Mesmo com a já citada preocupação com os descendentes, percebe-se que a predominância é na realização das próprias necessidades, uma vez que "a gente sabe que capitalismo é capitalismo [...] quem tiver pegando dinheiro, mesmo que tiver fazendo o mal pro ambiente, não vai tá nem aí pra isso" (P8).

A partir destes relatos, nota-se que a visão antropocêntrica ainda vigora e tem como base motivacional o interesse dos seres humanos em manter a sua qualidade de vida, seu bem-estar e sua saúde utilizando, para tanto, os recursos naturais existentes. Esta relação de troca torna-se, no entanto, desigual, na medida em que o homem preserva a natureza, mas apenas para seu próprio benefício. Estas atitudes refletem o individualismo e o egoísmo da sociedade contemporânea. Segundo Lipovetsky (2007), os indivíduos vivem o dilema paradoxal de consumir menos, de modo a regular e moderar os excessos em prol de um desenvolvimento econômico durável e também de consumir mais, para manter sua qualidade de vida e acelerar a economia.

A variável (b) confirma os achados da variável anterior. Os entrevistados expressam uma preocupação com o meio ambiente associada aos riscos percebidos e às consequências adversas dos problemas ambientais e da degradação para si mesmos. Indivíduos com orientação de valores antropocêntricos acreditam que o meio ambiente deva ser protegido tão somente para que seja mantida ou melhorada sua própria qualidade de vida (Thompson; Barton, 1994), sua saúde e a existência humana (Coelho; Gouveia; Milfont, 2006). Em pesquisa com consumidores, Peixoto (2012) constatou que o indivíduo com valores egoístas é motivado a agir pró-ambientalmente para auferir um benefício próprio, logo, ele prioriza as vantagens pessoais em detrimento das vantagens coletivas.

Os problemas ambientais estão atrelados à percepção de que o "ser humano" e a "saúde" são afetados pelas consequências adversas da degradação. Tais preocupações e receios são considerados egoístas, já que os entrevistados associam que, principalmente, os seres humanos são afetados, enquanto os demais seres vivos (plantas e animais) e a biosfera ficam em segundo plano. Observam-se também ações nas quais se evita comprar um produto porque causaria um dano à própria saúde. "Foi uma ou duas vezes que eu evitei comprar algum produto [...] acho que teve uma coisa no leite, tinha sido adicionado alguma coisa" (P2). Este professor reconhece o sofrimento das gerações futuras à medida que afirma "não que a gente vá sofrer tanto com isso, mas as gerações futuras [...] eu acho que esse impacto vai ser maior a longo prazo, daqui a uns cinquenta anos", entretanto, há indicações de valores egoístas, uma vez que "acho que eu não vivo isso tudo mais não".

No caso do problema da poluição, "interfere na minha qualidade de vida, à medida de que eu não tenho ali um ambiente limpo, a gente acaba tendo contatos com doenças" (P6).  "Isso aí vai afetar a saúde de todo mundo. Não só a minha ou só a sua. Isso aí afeta a saúde de todo mundo. [Me preocupo] com a minha saúde por causa da minha saúde, da saúde da minha filha, da minha esposa" (P8).

Os relatos apresentam prejuízos pessoais decorrentes da poluição, ou seja, os entrevistados identificaram ameaças diretas à saúde do ser humano, o que pode revelar uma preocupação individual a partir do ato de reflexão das ações coletivas das pessoas afetando ações individuais, como comer e respirar. Percebe-se que não há uma vontade de conservar o meio ambiente por si só, mas, sim, devido às consequências adversas que a degradação provoca para a própria saúde ou mesmo com a "nossa expectativa de vida, porque daqui a uns dias nós não vamos mais ter mais nem como viver" (P15). Dessa forma, não existe uma atuação efetiva e responsável e, sim, uma preocupação de curto prazo com a satisfação de interesses pessoais e manutenção dos padrões almejados de qualidade de vida.

A saúde humana foi enfatizada nos relatos desse estudo como sendo afetada diretamente pela degradação ambiental. Nesse sentido, há um temor relacionado ao consumo de alimentos contaminados, poluição do ar e da água. Na literatura já existem estudos que mostram a questão do medo da poluição causar problemas de saúde (Kals; Shumacher; Montada, 1999). "É um produto vindo de uma fazenda que usa agrotóxico e tudo mais, isso aí afeta tanto o solo como afeta também diretamente o organismo humano, que aí gera doença, que isso gera um outro consumo e assim vira um ciclo vicioso" (P17).

Em pesquisa realizada com um grupo homogêneo (idades de 18 a 70 anos) de consumidores de produtos orgânicos, Ceschim e Marchetti (2009) constataram que o envolvimento com estes produtos está relacionado principalmente aos benefícios que o produto traz à saúde. As mulheres consideram mais o lado emocional relacionado ao prazer no consumo e se preocupam com a natureza, com as gerações futuras; já os homens valorizam o custo-benefício e justificam que estes produtos são benéficos e necessários porque beneficiam a saúde, poupam tempo no preparo e não possuem agrotóxicos.

Na definição de Thompson e Barton (1994), estes valores representam características antropocêntricas, ou seja, a noção de que a natureza é um bem a ser utilizado para usufruto dos seres humanos. Também há uma preocupação típica da modernidade de otimizar o tempo e isso é inclusive ampliado para o consumo de alimentos. "Às vezes a gente passa muito tempo sem se alimentar e quando se alimenta tem que ser aquela comida que vai saciar naquela hora. Mesmo que daqui a duas horas eu vá sentir fome, mas é aquilo ali que vai suprir a minha necessidade no momento" (P5). "Como a gente aumentou esse negócio de comprar pronto, come e descarta. [...] E aí leva a poluição" (P9).

Em detrimento de alimentos fáceis e rápidos, em prol da facilidade e da comodidade, a professora tem consciência do aumento na geração de lixo decorrente disso. Mas as atitudes de autossatisfação auxiliam a manter esta percepção do egoísmo latente para a satisfação de interesses pessoais. "A gente se preocupa. Agora o que que eu tô fazendo pra mudar isso é que eu ainda não consegui.[...] Diminuir o consumo de refrigerante. Diminuir as sacolas de supermercado.[...] O problema é que a gente tá tão habituado ao prático e esse prático não deixa a gente fazer esse tipo de coisa" (P12).

A categoria Apatia ambiental está relacionada à variável (a) e pode ser descrita como uma consequência da modernidade e dos benefícios percebidos pelos consumidores que estão associados à sociedade de consumo atual. "Acelerar a transição para um futuro sustentável significa superar a inércia tanto das pessoas quanto das instituições", já que os indivíduos frequentemente resistem a mudanças (Brown, 2003, p. 294). Declarações do tipo "uma coisa é saber, a outra coisa é imprimir isso aí no seu ritmo de vida" (P9) ou "eu me preocupo, mas eu não tomo nenhuma atitude a favor não" (P17). A ausência de vontade de fazer algo, o descaso com as consequências adversas, a comodidade e o fato de culpar os outros pela degradação, também caracterizam a apatia dos entrevistados e são entendidas como formas de se eximir da corresponsabilidade.  Com relação ao lixo, "eu acredito que, se tiver uma coisa de separação de lixo, eu pratico. Na minha casa eu não faço porque não existe coleta aqui na minha cidade de lixo individualizado, separado por coisa e por conta disso eu não tenho esse costume" (P17).

A falta de engajamento pôde ser claramente percebida também pelo descaso com as ações pós-consumo e descarte, conforme segue, em que P13 declara não se preocupar com questões relacionadas à coleta seletiva. "Tem um postinho de coleta na praça perto da minha casa. Na verdade lá, o pessoal joga tudo junto, aí quem separa mesmo é o pessoal que vai coletar [...] Em casa a gente não separa". Vale ressaltar que pessoas que apresentaram valores biosféricos ou altruístas não são mais conscientes sobre os problemas ambientais, ou que pessoas com valores egoístas ou apáticas não têm consciência ambiental ou não têm comportamentos ambientalmente responsáveis. Porém, esses valores são preditores da atitude pró-ambiental, mas com aspectos distintos (Schultz, 2000).

3.2 Percepção acerca das consequências adversas

A partir da análise do conteúdo das entrevistas, foi possível identificar duas categorias acerca desse tema, a saber: percepção acerca do meio ambiente e percepção acerca de si enquanto consumidor. A seguir, a Figura 2 apresenta a temática.

Figura 2 – Categorias e variáveis do tema "percepção acerca das consequências adversas do consumo"


Fonte: Dados da pesquisa.

A categoria Percepção acerca do meio ambiente está associada a quatro subcategorias: (a) meio ambiente como natureza, (b) meio ambiente como recurso, (c) meio ambiente como problema e (d) meio ambiente como lugar em que se vive. A variável (a) presume que o consumidor tenha uma relação de respeito, de apreciação com o meio ambiente. Apenas uma entrevistada considera inaceitável o homem intervir na natureza. Segundo Sauvé (2005), de acordo com essa concepção, o ambiente é entendido como natureza original, dissociada do ser humano, que deve ser respeitada, apreciada e preservada. "[...] esse progresso tão desejado, tem transformado a nossa sociedade numa sociedade menos humana [...] principalmente com relação a nossa natureza" (P1).

Quanto à variável (b), os professores apontam que o ser humano deve gerenciar os recursos de acordo com princípios da sustentabilidade (Sauvé, 2005). "Então, por exemplo, determinada matéria prima que ele vai trabalhar para fazer determinado produto, mas tem que ter a reserva" (P15). As intervenções humanas são consideradas aceitáveis quando trazem benefícios para a geração atual, mas sem comprometer as gerações futuras, pois uma vez que "o homem, ele modifica a natureza, basta que ele esteja presente no ambiente, né. Então, isso é uma coisa que sempre vai acontecer. A ideia é tentar minimizar o impacto" (P2).  "[...] não tem como a gente não intervir, de qualquer forma a gente intervém na natureza. Agora existem formas de produção que você pode minimizar esses impactos" (P11).

Quando aquela intervenção, por exemplo, aumenta a produção de alimentos, mas sem atrapalhar as produções futuras, seria o que chama de produção sustentável. Aí eu aceito a intervenção. (...) Eu acho que a intensidade é relativa, sabe. É até que não provoque um dano futuro, até que não comprometa as gerações futuras. Voltado pra agropecuária, as produções futuras (P9).

Quanto à variável (c), merece destaque a relação do meio ambiente em prol da resolução de problemas do homem. Para Sauvé (2005), os que entendem a natureza como problema, amparam-se na busca de alternativas para diagnosticar, intervir e remover o obstáculo para manter e/ou melhorar a qualidade de vida das pessoas. É aceitável a intervenção em busca do "que seja essencial pra vida humana, por exemplo, construir barragens, que com certeza gera um impacto" (P2) ou mesmo "quando ela vai promover o bem-estar do próprio homem" (P9).  Entretanto, é sabido que "o homem ainda tem muito o que fazer acabando com a natureza, eu acho. Porque a questão financeira ainda é mais importante do que a natureza" (P13).

Quanto à variável (d), o homem é visto numa relação de interdependência com o meio ambiente e este deve ser compreendido e cuidado. "Procuro provocar as pessoas pra que elas não prejudiquem o meio ambiente, pra que elas cuidem do local onde elas estão, que elas usem o ambiente público como se fosse o ambiente próprio. Que elas tenham um certo cuidado (P4). Em um sentido mais amplo, "você não deve agredir demais o meio ambiente já que os recursos ambientais são limitados" (P18).

Nessa concepção, de acordo com Sauvé (2005), o ambiente é percebido como o lugar de vivência cotidiana dos humanos com seus aspectos sócio culturais, tecnológicos e componentes históricos. Dito em outras palavras, "a intervenção na natureza que eu acho bacana no homem, por exemplo, é intervir no caso da extinção de algum animal" (P1). "Eu acho que o homem tem que intervir na natureza no sentido de preservar. E a intensidade é a que for necessária para manter um ambiente salutar entre as categorias do ecossistema que tem ali naquele ambiente" (P17). As falas apresentam uma visão de cuidado com o ambiente, uma preocupação ambiental e uma relação ser humano/ambiente mais exemplificada. Há um retorno à figura da soberania do homem, mas aqui há um alargamento ao cuidado.

A categoria Percepção acerca de si enquanto consumidor está associada a três variáveis: (a) consumidor preocupado, (b) consumidor indiferente e (b) consumidor alienado. Tal categoria foi gerada a partir do questionamento sobre se o professor se considera um consumidor ambientalmente consciente.  Este termo é usado para definir aquele que busca gerar, por meio do seu comportamento de consumo, um efeito nulo ou favorável sobre o meio ambiente e à sociedade como um todo (Lages; Vargas Neto, 2002).

Consumir de modo responsável refere-se a garantir o consumo futuro, sem excessos e desperdícios. "Acho que esse consumidor teria que se preocupar com a questão dessa parte de consumo que afeta muito o meio ambiente como, por exemplo, o consumo de água, energia elétrica, separação do lixo" (P17). O consumo consciente exige reflexão prévia e isto demanda certo esforço e dedicação dos consumidores. Porém, como já apresentado, nem sempre há um comprometimento com decisões pró-ambientais.

Quanto à variável (a), os professores desse estudo possuem uma preocupação restrita a questões de resíduos, de reciclagem, de consumo de alimentos. A variável ambiental não está inserida neste processo, prevalecendo o bem-estar do próprio ser humano e, sobretudo, com a própria saúde. Há um conhecimento sobre as atitudes que prejudicam o meio ambiente, entretanto, relacionadas a comportar-se de forma adequada ou educada, uma vez que "eu sou incapaz de jogar um papel de bombom no meio da rua que não seja no lixeiro" (P16) ou mesmo "eu tenho essa preocupação com a questão das embalagens [...] Eu me preocupo com essa separação do lixo" (P6).

O agir ambientalmente consciente está atrelado a uma preocupação consigo mesmo, uma vez que a "consciência ambiental" aparece em decorrência da economia financeira. "Relacionado à água e energia, acho que sim, consciente" (P7).  "A gente consome energia, a gente consome água, mas eu me preocupo ao máximo em não gastar tanto, não desperdiçar tanto" (P18). No que diz respeito à relação entre consciência ambiental e hábitos alimentares, "acho que quando a gente começa a estudar, a gente acaba tendo uma consciência maior [...] apesar de ter esse hábito ainda de comer besteiras, mas hoje eu tô procurando inverter isso, procurando coisas bem mais saudáveis do que antigamente" (P10). Algumas declarações revelam que os professores promovem a disseminação do conhecimento que possuem no ambiente escolar, "porque o que a gente vê são os nossos alunos crescendo num mundo cada vez menos respeitoso, cada vez menos educados ambientalmente. Então, eu estou tentando fazer esse trabalho de conscientização ambiental" (P1).

Quanto à variável (b), fica evidente nos professores desse estudo a dificuldade em colocar em prática aquilo que sabe ser correto, em termos de comportamentos ambientalmente conscientes. "Consciente eu sou, eu tenho consciência de que o que eu faço não está correto, eu não tenho é a prática. Não tenho todos os cuidados que deveria ter. Pior que vai passando pros filhos, porque pros filhos nós vamos passando nossos valores" (P9), ou seja, os próprios filhos que vão aprendendo observando o comportamento dos pais.

Nesse sentido, merece destaque o levantamento do Instituto Akatu que identificou que houve um aumento de consumidores "indiferentes". Dos que conhecem o termo sustentabilidade, poucos se interessam e transformam o seu significado em prática cotidiana. Dessa forma, o "consumidor indiferente" sabe o que deve ser feito, mas falha na hora de pôr em prática (Akatu, 2010). O conhecimento das causas e dos efeitos das ações humanas sobre o meio ambiente é um fato, mas não são complementados por propostas de ações para mitigar estas consequências, pois "uma coisa é saber, a outra coisa é imprimir isso aí no seu ritmo de vida" (P9). P17 afirma não possuir tempo para efetivar a prática de consumir de forma ambientalmente consciente, pois "eu tenho uma pequena consciência, mas como a vida da gente é muito corrida, eu não tenho muito o que botar em prática. Eu acho que eu nunca plantei nenhuma árvore, então daí você tira como é". O final da afirmação revela uma visão distorcida da questão ambiental, pois o critério adotado para avaliar a própria conduta é insuficiente.

Os professores desse estudo, na sua maioria, são indiferentes quanto a consumir de forma responsável ou mesmo possuem uma visão distorcida sobre o agir ambientalmente consciente. Não se importam na escolha de produtos e fazem parte da engrenagem de um consumo pelo consumo, sem reflexões acerca dos próprios atos, sem pensarem em solucionar os problemas ambientais que afetam a si e as futuras gerações. Em certos momentos há um descaso com o meio ambiente, uma vez que "na hora que eu vou fazer alguma coisa eu não penso nessa questão ambiental" (P8). Também ficou evidenciado que relacionam os problemas ambientais aos comportamentos humanos e aos seus hábitos de consumo, demonstrando que existe o conhecimento acerca das causas da degradação. Entretanto, raramente mencionam que pretendem questionar seus próprios hábitos, ou mesmo não se consideram pessoalmente parte do problema. Quando sugerem que o responsável pela degradação é o "homem", tratam deste assunto sem comprometimento.

Quanto à variável (c), percebem-se respostas que indicam comportamentos ligados ao egoísmo, ausência de preocupação quanto às futuras gerações. O docente até mesmo considera o comportamento de jogar lixo no lixo como um indicativo de consciência ambiental, uma vez que "eu tento pelo menos jogar o lixo no lixo [...] sou muito fraca nesse sentido aí. Eu ainda não me liguei em tá pensando na natureza, no futuro, quem sabe, dos meus filhos. A gente ainda é muito objetivo no que é melhor pra gente" (P13).

Para P13 não há sequer percepção do atual nível de degradação ambiental decorrente da intervenção humana. Assim, para que um comportamento ambientalmente consciente seja exercido, deve existir uma motivação de ordem financeira. "Talvez a gente vá prestar mais atenção nesse sentido quando mexer no bolso do consumidor [...] que aí é que ele vai se tocar, mas não pensando nas gerações futuras". Em detrimento de uma preocupação ambiental, percebem-se certas atitudes que estão diretamente ligadas a um prazer em causar um sofrimento aos animais. "Por exemplo, eu gosto de pescar. Mas em casa todo mundo condena. 'Ah, você vai se divertir puxando o peixe pela boca?!'. Aí quando coloca dessa forma, a gente fica tão cruel, que a gente se sente mal. Mas eu gosto de pescar" (P12). Observa-se que essa civilização do conhecimento, para Leff (2000), é, ao mesmo tempo, a sociedade do desconhecimento, da alienação generalizada, da deserotização do saber e o desencantamento do mundo.

4. Considerações finais

O estudo permitiu compreender que os professores vivem com um pensamento de "proteção" que não se refere ao meio ambiente, mas é direcionado a preservar a saúde e o estilo de vida adquiridos na modernidade. Em outras palavras, alguns professores até reconhecem a importância do cuidado com o meio ambiente, mas somente para que não seja alterada sua qualidade de vida e o bem-estar pessoal, sendo esta uma característica do individualismo presente nas civilizações contemporâneas.

As declarações dos professores demostraram que eles possuem um conhecimento acerca dos problemas ambientais, mas apontam a culpa para o outro (homem, sociedade) a responsabilidade pela degradação. Ao analisar o discurso no nível de percepção de si enquanto consumidor percebeu-se claramente a não adoção de comportamentos pró-ambientais, por diversos motivos, dentre eles a apatia ambiental, a falta de tempo para se dedicar a ações ambientais. Existem preocupações egoístas de que os problemas ambientais causariam incômodos ligados a calor ou mesmo a doenças. Assim, temem pela manutenção de sua própria vida, o que denota, de um modo geral, receios de cunho egoísta, pois são considerados os riscos para os seres humanos, enquanto os demais seres vivos ficaram ausentes nas respostas.

Percebeu-se uma forte preocupação ligada ao individualismo, merecendo destaque três intenções: preservar ou conservar o meio ambiente; alcançar interesses pessoais relacionados à manutenção dos padrões de consumo; ou manter uma posição apática, sem demonstrar envolvimento, sendo que os dois últimos aparecem com mais ênfase.  Conclui-se que os professores estão preocupados com questões ligadas ao meio ambiente, mas não se sentem envolvidos e nem agem dessa forma. Para despertar o compromisso dos professores com o cuidado ambiental e coletivo é fundamental que eles se percebam como parte integrante e atuante no meio ambiente, e que tenham acesso a conhecimentos que ultrapassem a esfera das consequências da má utilização dos recursos naturais e da necessidade de diminuição da produção de resíduos e da redução do consumo. A posição do professor como indivíduo, cidadão, consumidor precisa se relacionar com a sua função de educador e de facilitador de uma percepção ambiental. Trata-se da formação de um professor que seja um cidadão consciente dos problemas que afetam o mundo e seja responsável pelos destinos do processo histórico no qual está imerso. Por isso, um consumidor crítico, um cidadão solidário; e, se crítico e solidário, ético, mas também participativo e atuante e, por isso, político.

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1. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (TROPEN/UFPI). E-mail: hericamelo@ufpi.edu.br. Universidade Federal do Piauí, Teresina, Piauí.
2. Professor Adjunto da Universidade Federal do Piauí, vinculado ao Departamento de Fundamentos da Educação (CCE) e ao Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (TROPEN/UFPI). Doutor em Psicologia Social pela Universidade do Rio Grande do Norte.E-mail: denispsi@bol.com.br. Universidade Federal do Piauí, Teresina, Piauí.


Vol. 36 (Nº 22) Año 2015

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