Espacios. Vol. 35 (Nº 6) Año 2014. Pág. 17 |
A influência da confiança individual e politica no desenvolvimento: Um caso em uma comunidade rural no Nordeste do BrasilThe influence of individual and political trust in development: A case in a rural community in northeastern BrazilJúlia Kátia Borgneth PETRUS 1; Magno Vasconcelos PEREIRA JUNIOR 2 Recibido: 05/04/14 • Aprobado: 16/05/14 |
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1. Consideraçoes iniciaisConfiança uma palavra originada do latim fides, que segundo o Dicionário Aurélio, "Confiança é segurança íntima de procedimento, crédito, fé, esperança firme", como se percebe, é um conceito forte, de acreditar de olhos vendados nas pessoas que são do nosso relacionamento, do relacionamento comunitário. Confiança não é algo que possamos impor a outro, mas sim, é conquistado dia a dia. A instabilidade política, que pode ser uma conseqüência da instabilidade econômico-social, perpetua-se em comunidades individualista. Este fenômeno tem o nome de insegurança, as pessoas não sabem o que fazem, se ficam de um lado ou de outro. Um lado a sua consciência o outro o emprego, e outras regalias. A insegurança afeta sobretudo a vida dos jovens, que não é por outra coisa que vem aumentando o índice de criminalidade, especialmente com o tráfico de drogas. Os trabalhos comunitários rurais feito pelos pesquisadores trazem um meditar na sua observação. Esta havendo uma inversão de valores em relação aos jovens, pois o que a realidade tem passado é que quanto mais os políticos são mentirosos e corruptos, mais são ricos e "bem relacionados" [3], e estes jovens querem melhoria de vida e o caminho dado como exemplo é este, que perpassa pela impunidade, e eles sabem disso, pois têm as informações da mídia. Estes jovens tem pais honestos, trabalhadores, mas com uma vida muito sofrida e de privações. É por isso que preferem seguir o outro exemplo, os parece mais facil e em suas mentes é mais"seguro". Podemos comparar o dilema dos jovens de hoje como o dilema dos prisioneiros [4], quando estes têm que decidir sobre cooperar ou defender a si mesmo, ou melhor, decidir entre os exemplos de individualismo, que traz na maioria das vezes a corrupção, a traição de seus amigos, vizinhos, etc, ou decidir pela cooperação, uma vida mais harmônica, mais integrada com as pessoas de sua comunidade, levando-os a ter sua consciência tranqüila, e o bem estar relacionado com o fazer certo. Esta atitude traz uma paz interior, que podemos chamar felicidade. Os sujeitos sociais têm confiança política a partir de uma boa governança, baseados no passado, portanto a desconfiança dos brasileiros em relação a política é grave, pois os nossos governantes não conseguem acertar no cerne dos problemas do povo brasileiro, que é o aumento das desigualdades sociais que é conseqüência da má distribuição de renda. Pode-se inferir, ou é por incompetência administrativa e política ou porque já buscam o poder, mal intencionados. A Sociedade, o Estado e Governo podem atuar conjuntamente, de forma congruente e em sinergia, apesar das suas funções serem distintas. Este é um exercício difícil, pois ao longo de décadas, centenas e milhares de anos vive-se num ciclo vicioso, onde a corrupção dos governantes está presente no Estado, com uma sociedade passiva. Mas, a solução está nas pessoas, que são sujeitos de sua própria realidade. O capital social tem em sua base a cooperação e confiança entre as pessoa e instituições, para isso o Estado precisa ter mais responsabilidade em suas atitudes morais. Um dos problemas mais grave no Brasil são as eleições, De um lado os políticos que prometem, sabendo muitas vezes que não cumpriram suas promessas, mas as promessas são um dos caminhos para a chegada ao poder, do outro lado os eleitores, que desacreditados, desconfiados com todos que buscam o poder, também jogam, tirando vantagem de um e outro, das promessas individuais destes candidatos, arriscando que algum deles cumpram pelo menos parte do compromisso assumido individualmente. Portanto, ficam do lado de quem mais promete, ou pior ficam de todos os lados, com todos os candidatos. Este comentário se aplica principalmente em comunidades pequenas, e este tipo de negociação são ainda de maiores proporções no Nordeste, onde o clientelismo é mais aguçado. E aqueles que se mantém em silêncio, ficando em cima do muro, não participando de movimentos políticos, este silêncio é sinônimo de desconfiança e uma forma de sobrevivência política. Ainda, o protecionismo relacionado com o Estado, no sentido, de que as coisas só andam para uma determinada comunidade se esta tem alguém com influência na instituição. E mais, a vontade popular não está de acordo com a vontade dos governantes, aumentando a distância entre sociedade e governo. Logo, é emergencial que o Estado tome esta consciência no agir para ser eficiente e romper as cadeias da insegurança da sociedade brasileira. A confiança individual, comentada nesse trabalho é a confiança que uns tens nos outros, ou seja, a confiança interpessoal, que esta ligada a confiança política quando o comportamento é fruto de uma cultura, que pode inibir, mas também ter influencia e até mesmo estimular as questões politicas. Agora estamos falando de um povo consciente, crítico e organizado, que segundo Kuhn (apud CAPRA 1996, p.24), é uma constelação de concepções, de valores, de percepção e de prática compartilhada por uma comunidade, que dá forma a uma visão particular a uma realidade, a qual constitui a base da maneira como a comunidade se organiza. Uma cultura baseada na confiança mutua em uma comunidade, ou seja, quanto maior o graus de confiança entre seus pares, mais organizados, cidadãos envolvido politicamente, em consequencia uma democracia fortalecida e com o controle do desenvolvimento econômico. Putman alerta para o que ele chama de "familismo imoral", um conceito aplicado por Banfield para caracterizar os padrões de comportamento do sul da Itália [5]. A idéia básica deste padrão de comportamento é que os indivíduos agem orientados pelo desejo de obter o máximo de vantagens para sua família, e assim imaginam que os outros irão agir da mesma maneira. Sendo que o resultado desta ação é que as pessoas interagem de forma individual, apenas para colher benefícios para si e sua família. E esquecendo-se do próximo, ou seja a vizinhança, a comunidade. Putnam (1996, p.180) alerta: "A confiança necessária para fomentar a cooperação não é uma confiança cega". Não se confia em alguém que não se conhece, ou se conhece apenas há alguns dias. Afirma-se que a confiança é conseguida a partir do seu comportamento. Se uma pessoa não é acreditada na comunidade, mas quer ser, esta deve provar, com atitudes, que mudou, e isso demanda tempo para demonstrar que agora é uma pessoa de credibilidade. A confiança se constrói durante um longo período de tempo, mas uma vez instituída, tende a continuar, mesmo que demande de constante exercício. O comportamento de pessoas confiáveis são previsíveis, o que leva a motivação por cooperar e acreditar que as normas, mesmo intrínsecas, são respeitadas. O conceito de confiança esta relacionado com a interação entre os sujeitos, mas isso em sociedades que acreditam que um comportamento confiável será recompensado, onde a reciprocidade, a cooperação acontece de forma simples e espontânea. Uma das motivações deste trabalho é compreender estas concepções, valores, percepções e práticas compartilhadas por uma comunidade, no âmbito da idéia da organização social. Sua base é a participação do indivíduo como comunidade/sociedade, referindo-se ao envolvimento deste em várias redes informais e formais, desde as relações com a vizinhança até a filiação de um partido político. A confiança é visto como um conceito que caracteriza as várias maneiras de como os sujeitos interagem em sua comunidade. Como já dizia Marx (1985), a emancipação humana só se completa quando o indivíduo tiver reconhecidos e organizados seus poderes sociais, de tal modo que não mais separe dele próprio esse poder social como poder político. 2. ObjetivoDescobrir se há relação entre a confiança individual e a confiança política no Distrito de Cachoeira – Maranguape – Ceará/Brasil. 2.1. Objetivos Específicosa) aferir a confiança individual e politica mediante variáveis; b) inferir o grau de influência de confiança individual e politica na tomada de decisões de alcance interno e externo na referida comunidade. 3. Metodologia3.1 área de estudoA área de estudo escolhida é o Distrito de Cachoeira, no Município de Maranguape, localizado a 53 Km ao sul de Fortaleza e 28 Km da sede do Município. Está situado à margem esquerda da rodovia CE 065, tendo os municípios de Palmácia e Guaiuba como seus limites geográficos. A escolha desta área deu-se em decorrência de relatos do Comitê Agrícola existente na comunidade que destacavam as experiências de seus membros de produzirem e venderem coletivamente, além de que havia uma certa confiança mútua, bem como atividades comunitárias, como mutirão para a limpeza do açude. Essas características despertaram o interesse da pesquisa no local visando à constatação científica ou não da existência de confiança entre seus pares, bem como, a confiança politica e qual sua contribuição para o desenvolvimento. 3.2 população e amostraNo Distrito de Cachoeira existem 184 famílias, totalizando aproximadamente 800 habitantes. A pesquisa foi realizada com base em uma amostra de 63 famílias residentes em Cachoeira. O tamanho da amostra foi calculado utilizando-se a fórmula de Fonseca e Martins (1996). 3.3 método de análiseA investigação foi socialmente construída mediante interações constantes entre pesquisadores, pesquisados e a comunidade. Para a operacionalização do objeto de estudo, foi construído o índice de confiança individual e índice de confiança politica. Para conhecer o grau de confiança de Cachoeira foi elaborado um questionario com perguntas sobre confiança individual e politica. Cada pergunta foi tratada como uma variável, a qual será demostrada nos resultados deste artigo. Vale ressaltar que em uma das variáveis, os escores foram atribuidos pelos entrevistados, o restante foi atribuido pelos autores, utilizado a escala de 1 a 4. 4. Resultado e discussaoA comunidade de Cachoeira apresenta um nível de escolaridade pouco satisfatório. Conforme os resultados apresentados na TABELA 1 demonstram que 25,4% não são alfabetizados, ou seja, se muito, assinam apenas o seu nome. Dentre as 16 pessoas neste estado, 6 se encontram na faixa etária de 46 a 60 anos (37,5%), 5 pessoas são maiores de 60 anos, o que equivale 31,2%, 2 pessoas então em idade de 31 a 45 anos (12,5%) e 3 (18,8%) estão na faixa de 16 a 30 anos. TABELA 1 - Frequência absoluta e relativa dos chefes de família segundo o grau de instrução
FONTE: Dados da pesquisa Quanto a renda per capta do Distrito de Cachoeira verifica-se na TABELA 2 que 66,7% das famílias pesquisadas vivem com até R$ 100,00, ou seja, estas pessoas estão abaixo da linha da pobreza [6]. TABELA 2 - Freqüência absoluta e relativa das famílias segundo a renda per capita
FONTE: Dados da pesquisa De acordo com o dados apresentados pelo Ipea (2011), 10% da população cearense está abaixo da linha nacional da miséria (renda inferior a R$ 70 por pessoa), o dobro da média nacional (5%). Essa proporção, no entanto, vem caindo nos últimos anos. Em 2004, os mais pobres eram 18% no estado. Marcio Pochmann, presidente do Ipea anuncia que o estado do Ceará teve mais sucesso na redução da chamada pobreza extrema, ou miséria – população com rendimento médio domiciliar per capita de até um quarto do salário mínimo. A taxa, neste caso, saiu de 43,7% para 23,5% do total de habitantes, na mesma base de comparação, representando redução de 46,2%. Segundo o estudo do Ipea, em 1995, o Ceará aparecia como o terceiro estado do Brasil em proporção de pobreza, melhor apenas do que o Maranhão (77,8%) e o Piauí (75,7%). Em 2008, melhorou duas posições, figurando na 5ª colocação, e deixando para trás Alagoas (56,6%), Maranhão (55,9%), Piauí (52,9%) e Pernambuco (50,1%). Vale ressaltar que todos as unidades da federação com elevada proporção de pobres estão no Nordeste. A renda per capita do Distrito de Cachoeira é de R$ 93, 37, muito abaixo da renda dos cearenses, portanto, estão abaixo da linha da pobreza e se aproximando da linha de indigência. Comparando a renda per capita dos cearenses com a população estudada, observa-se que estes percebem o equivalente a 58% de R$ 161,00. 4.2.2 - indicador de confiança individual – ici Analisando o grau de confiança individual, ou seja, o grau de confiança das pessoas em outras pessoas da comunidade de Cachoeira, este se revela bastante promissor, pois o indicador de confiança individual é 0,751. Este resultado diz que o grau de confiança da comunidade pesquisada é médio, aproximando-se da classificação alta. Foram utilizados 7 variáveis para encontrar este indicador. Quando dos questionamentos em relação à confiança da maioria das pessoas na comunidade, a FIGURA 1 demonstra que 22,2% dos entrevistados crêem que a maioria dos moradores de Cachoeira é de grande confiança, 35% crêem que eles são de confiança, logo, a maioria acredita que as pessoas da comunidade são de confiança (57,2%) e 23,8% julgam que estas são de pouca confiança e 19,0% não sabem se são ou não de confiança.
Os resultados mostram que 52,4% dos entrevistados se preocupam em ajudar a comunidade e a si mesmo; 23,8% se preocupam em ajudar somente a comunidade; somente 23,8% têm o sentimento individualista, pensam somente em si próprios, não se importando com o coletivo: o que importa é que eles e sua família estejam bem, como é apresentado na FIGURA 2.
Ainda em relação ao que acreditam nas pessoas do Distrito de Cachoeira, os resultados demonstram que 57,1% reconhecem que as pessoas são justas umas com as outras e 42,9% dos entrevistados crêem que de uma forma ou de outra as pessoas tiram vantagens uma das outras. A TABELA 3 indica que 85,7% e 90,5% contribuiriam com tempo e dinheiro, respectivamente, para um projeto que venha beneficiar a comunidade como um todo. A ressalva quanto à cooperação do dinheiro é que eles emprestam se realmente tiverem. Portanto, as famílias pesquisadas cooperariam para o bem comum de Cachoeira. Ninguém coopera com quem não confia; a confiança esta intimamente ligada à cooperação. TABELA 3 - FREQÜÊNCIA ABSOLUTA E RELATIVA DAS FAMÍLIAS SEGUNDO
FONTE: Dados da pesquisa Confiança requer estabilidade, e o conhecimento de anos das famílias de Cachoeira reforça os laços de confiança mútua e, conseqüentemente, os mecanismos de cooperação entre os habitantes, o que reduz as incertezas e reforça cada vez mais o nível de confiança e cooperação no interior da população. "A confiança promove a cooperação. Quanto mais elevado o grau de confiança numa comunidade, maior a probabilidade de haver cooperação. A própria cooperação gera confiança" (FRANCO, 2001, p. 104). FIGURA 3 – Distribuição relativa dos entrevistados quanto ao pensamento das pessoas Na FIGURA 3, predomina o espírito coletivo da comunidade, quando 55,6% discordam da idéia de que em primeiro lugar deve-se cuidar do que é deles para depois pensar em ajudar os outros. Aqueles que concordam em parte equivalem a um percentual de 34,9% do universo pesquisado e somente 9,5% têm um espírito mais individualista.
A FIGURA 4 demonstra que 92,0% da amostra populacional definitivamente e/ou provavelmente emprestaria dinheiro e/ou ajudaria no que fosse necessário às pessoas da comunidade, com a mesma ressalva quando da ajuda de um projeto com dinheiro; se realmente tiver a quantia, empresta sem nenhum problema. Como se observa, apenas 3,2% não emprestaria e 4,8% ficam na dúvida se deve ou não emprestar. 4.2.3 indicador de confiança política – icpEste indicador foi encontrado por meio de 13 variáveis, e trata desde o envolvimento político da amostra pesquisada até o grau de confiança dos sujeitos sociais em relação às instituições e às pessoas investidas de cargos. A FIGURA 5, que trata do interesse da comunidade pela política, demonstra que a maioria não se interessa por política, ou seja, não se incomoda se A ou B ou C é eleito. Com um percentual de 6,3%, os entrevistados responderam que têm interesse pela política, 42,6% têm um pouco interesse e 51,1% não manifestam nenhum interesse pela política.
Ratificando a falta de interesse pela política partidária, também é baixa a taxa de pessoas pesquisadas que fazem campanha para os seus candidatos, 20,6%. Destes, a maioria só se envolve na política quando tem algum parente próximo ou um grande amigo como candidato. O resultado encontrado no Distrito de Cachoeira traz uma reflexão baseada em experiências empíricas, de que, quanto menor a comunidade, maior envolvimento político, e as famílias se põem de um lado ou de outro em época em campanha. [7] A comunidade de Cachoeira, pelo que demonstra a pesquisa, é uma comunidade que não tem participação na política. Este resultado prova, na prática, quando nesta população não há representante político na Câmara dos Vereadores de Maranguape. Quando se considera o grau de confiança desta comunidade nos seus políticos, entende-se que a maioria dos entrevistados confia mais ou menos, com um percentual de 76,6%. Este resultado continua ratificando o mínimo de envolvimento desta sociedade. Os que realmente confiam em seus políticos representam somente 4,8%, e os que não confiam 18,6% conforme FIGURA 6.
Se referido ao grau de preocupação de prefeitos e vereadores da comunidade, foi notado que apenas 6,3% têm muita confiança tanto no prefeito como nos vereadores. E os resultados ainda demonstram que 68,3% e 73% dos entrevistados têm mais ou menos confiança no prefeito e vereadores, respectivamente. Os que não têm confiança nos seus governantes (prefeito e vereadores) equivalem a 14,2% e 12,7%, e os que não sabem se têm ou não confiança são 11% e 8%, respectivamente (TABELA 4). TABELA 4 - Freqüência absoluta e relativa dos entrevistados segundo o que pensamsobre
FONTE: Dados da pesquisa A FIGURA 7 mostra com especificidade o grau de confiança nas lideranças políticas e comunitárias de Cachoeira, onde 85,7% das pessoas pesquisadas confiam na Igreja, seguido do líder comunitário, com 79,5%. Associação comunitária detêm 56,3% da confiança dos pesquisados. Os entrevistados confiam menos na Câmara dos Vereadores (14,1%), confirmando os resultados anteriores, seguidos da Prefeitura (28,5%) e dos vereadores (36,5%). Vale ressaltar a diferença que a autora fez da Câmara dos Vereadores, com os próprios vereadores: quando a pergunta é feita para os pesquisados, ficou claro que, quando se trata de vereador, referia-se ao vereador da simpatia do entrevistado, e a Câmara dos Vereadores são todos os vereadores que a constituem. FIGURA 7 – Distribuição dos entrevistados segundo o grau de confiança nas lideraças locais Fonte: Dados da pesquisa Quanto a confiar mais ou menos nestes lideres, ou seja, confiam, desconfiando, a Igreja teve a menor rejeição, com 9,5%, seguida da líder, 17,5%, associação, 21,5%, vereador, 28,5%, Prefeitura e Câmara, 44,4% e 42,7%, respectivamente. Apenas uma pessoa das entrevistadas não confia na Igreja e no líder da comunidade. Um percentual maior dos que não confiam de forma alguma ficou para a Câmara dos Vereadores. Em se tratando de prefeitos e vereadores, o resultado foi muito parecido, podendo-se afirmar uma certa rejeição quanto ao grau de confiança da comunidade para com estes. Para a comunidade de Cachoeira, a característica mais importante para conquistar o seu voto é ser da comunidade (TABELA 5). O escore desta variável foi atribuído pelos próprios entrevistados, levando em conta seu grau de importância. TABELA 5 – Freqüência absoluta e relativa dos entrevistados segundo as características
FONTE: Dados da pesquisa Com 38% de preferência, a característica mais importante para conquistar o voto dos entrevistados é ser da comunidade, seguida de 23,8%, para aqueles que já fizeram algum favor ou para si ou para alguém de sua família e 19,0% para o fato de ter experiência e ser trabalhador. Ter instrução e ser indicado por alguém de sua confiança não tem importância para esta comunidade. Dos 63 entrevistados, 4 pessoas reconheceram como característica fundamental para ser votado alguém que o conheça pessoalmente (6,4%). Ainda como sua segunda opção, apenas uma pessoa disse que era importante a honestidade como qualidade de um candidato. FIGURA 8 – Distribuição relativa dos entrevistados segundo se a comunidade já sofreu perseguição política
Testando o nível de envolvimento da comunidade, percebe-se que 25,4% não sabem se já houve algum tipo de perseguição política à sua comunidade. Um percentual alto, pois quem mora em um lugar por anos e anos e não percebe se sofreu algum tipo de transtorno político, pode ser por não ter consciência de participação política, e conseqüentemente, não ter essas informações. Ainda 30,2% dizem que sofreram algum tipo de perseguição política, mas 44,4% dizem que não (FIGURA 8). O indicador de confiança política apresentou um resultado médio, 0,596, mas ainda longe de um resultado que venha interferir de forma substancial na qualidade de participação política e, conseqüentemente, ter a gestão que queiram, voltada para o bem comum. Segundo estudos recentes, a confiança política, ou seja, a confiança nos governantes, nos agentes políticos, líderes, situa-se numa dimensão diferente da confiança interpessoal. O interesse manifestado pelos cidadãos na vida política do País varia quanto à educação e condição de vida. "Os cidadãos mais pobres e menos educados são os mais ativos participantes de grupo comunitário, mas demonstram pouco comprometimento com as lideranças democráticas" (LOPES, 2003, p.113), ou seja, "participam", mas não são envolvidos, um "participar" com poucas tomadas de decisões. A irresponsabilidade do poder público gerada ao longo de muitos anos e falta de transparência com a coisa pública fazem aumentar a desconfiança de uma comunidade, uma região ou um país. A sociedade, o Estado e governo podem atuar conjuntamente, de forma congruente e em sinergia, apesar das suas funções serem distintas. Outro fator que diminui a confiança política é a lentidão nas tomadas de decisões, e isto causa um elevado custo, financeiro e político, caracterizado pela não-governabilidade. Ainda, o protecionismo relacionado com o Estado, no sentido de que as coisas só andam para uma determinada comunidade se esta tem alguém com influência na instituição. E mais: a vontade popular não está de acordo com a vontade dos governantes, aumentando a distância entre sociedade e governo. Logo, é emergencial que o Estado tome esta consciência no agir para ser eficiente e romper as cadeias da insegurança da sociedade brasileira. 5. Consideraçoes finaisA regra da reciprocidade generalizada é um componente altamente produtivo do capital social. As comunidades em que essa regra é obedecida têm melhores condições de coibir o oportunismo e solucionar os problemas de ação coletiva (PUTNAM, 1996, p.181). O indicador de confiança individual (0,751), é um indicador considerado como médio alto, faltando muito pouco para está classificado como alto (0,049), porém, o mesmo já não acontece como o indicador de confiança politica (0,596), onde por pouco não é considerado como baixo. A diferença entre a confiança individual e a confiança politica é de 0,155. Então, indicador de confiança individual da Comunidade de Cachoeira, por conseguinte, leva a crer que a maioria das pessoas acreditam uns nos outros. Analisando subjetivamente este Distrito, pode-se dizer que é uma comunidade estável onde as pessoas já moram há décadas, pois é um lugar tradicional, onde os mais novos também vão ficando e formando família com pessoas do próprio lugar, assim passando de geração a geração. Dos entrevistados, apenas uma família se mudou há pouco tempo para Cachoeira, assim mesmo, porque tem raízes na comunidade. O que torna possível o empreendimento de ações conjuntas que resultem no bem da coletividade é o sentimento de confiança mútua entre os indivíduos que constituem a comunidade. A não-existência de confiança faz com que as pessoas estejam pouco propensas a relacionarem-se de forma colaborativa. Vale ressaltar que a elevação deste resultado se encontra nas variáveis quanto ao grau de confiança da Igreja, líder e associação, que foram muito bons; porém, se retirar estas variáveis, este indicador cai para 0,489. Portanto, o incremento com estas variáveis é de 0,107, o que faz grande diferença, passando de uma classificação média para baixa, o que leva a afirmar que a comunidade não acredita nos políticos. Portanto, a confiança interpessoal não tem relação com a confiança politica, pelo menos nesta comunidade, pois se assim fosse teriam uma politica socioeconômica fortalecida. A percepção do trabalho leva a crê em um paradoxo pois a confiança interpessoal reforça a ação coletiva, pois minimiza os comportamentos oportunistas, isolando atitudes individuais e imediatistas, bem como evitando o paternalismo por parte dos políticos. Conforme Inglehart, confiança é um requisito para formação de associações secundárias e é essencial para a participação política. Para este autor a cultura cívica desempenha um papel central na definição da viabilidade do governo democrático, ou seja, a cultura afeta o desempenho politico, porque esta antecede ao regime politico. Tomado como base estas considerações e reflexões, pode–se verificar que a população de Cachoeira expressa que tem noção de confiança política, sabe da necessidade de participação política para que haja inferência nas ações voltadas à comunidade, porém, com base no passado, a comunidade de Cachoeira, levando em conta a amostra estudada, está desacreditada, desestimulada com às políticas públicas locais. Finalmente, se percebe que caso houvesse a ligação das duas confianças os moradores de Cachoeira poderiam ter uma economia sólida. 6. Referências bibliográficasABRAMOVAY,Ricardo. A formação de capital social para o desenvolvimento local sustentável. 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1 Doutora em Planejamento Territorial e Gestão Ambiental – Universidade de Barcelona Professora Universidade Federal do Maranhão E-mail: jpetrus@hotmail.com |