Gilberto Zammar* y João Luiz Kovaleski** y Silvia Gaia Zanetti***
Recibido: 02-05-2010 - Aprobado: 16-11-2010
RESUMO: |
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Os parques tecnológicos constituem empreendimentos imobiliários, geridos por especialistas, que viabilizam a criação de um ambiente de cooperação entre a iniciativa empreendedora e a comunidade acadêmica, visando fortalecer a capacidade de inovação e aumentar o bem estar da comunidade onde estão inseridos. A principal diferença entre um distrito industrial e um parque tecnológico é que este não constitui apenas uma área física delimitada onde diversas empresas podem ser instaladas, e sim, um ambiente de forte integração entre as universidades e instituições de pesquisa e as empresas ali instaladas, funcionando como um elo entre clientes e recursos humanos e tecnológicos das universidades. Os gestores dos parques tecnológicos são responsáveis por estimular a interação e transferência de tecnologia das instituições de pesquisa para as empresas e de manter a constante capacitação empresarial das firmas nele estabelecidas.
Parques tecnológicos são instituições que se localizam na fronteira de dois mundos distintos, pois pretendem disponibilizar espaços que abrigam simultaneamente empresas de bases tecnológicas e inovadoras, reguladas pela lógica de mercado; e instituições de fomento, pesquisa, ciência e tecnologia que possuem políticas relacionadas à educação e produção do conhecimento científico. São experiências distintas, com culturas e hábitos diferentes que irão conviver no mesmo espaço de desenvolvimento, mas principalmente deverão estabelecer um ambiente de integração e cooperação. Vencer este paradigma de conflitos entre o acadêmico e o empresarial é o primeiro desafio para a implantação de Parques Tecnológicos (OLIVEIRA, 2008).
Sabe-se que o sucesso de um parque tecnológico é a localização, pois a identidade física do empreendimento é muito importante. Quanto mais próxima da “instituição base”, geralmente uma universidade, maiores serão as vantagens decorrentes das facilidades de fomento, gerenciamento e de interação (OLIVEIRA, 2008). Não menos importante é estabelecer uma infraestrutura para a implantação e a consolidação de parques tecnológicos visando à implementação de serviços que deverão apresentar relevância tecnológica, viabilidade e sustentabilidade econômica nas atividades industriais. Estes parques deverão absorver e fomentar as incubadoras de empresas de base tecnológica, caracterizadas pela inovação tecnológica, pelo conteúdo tecnológico de seus produtos, processos e serviços, bem como pela utilização de modernos métodos de gestão.
O presente estudo visa responder a seguinte pergunta: Qual é a infraestrutura necessária para a implantação de um local que abrigue empresas de base tecnológica, ou seja, qual é a infraestrutura necessária para a implantação de um parque tecnológico em Ponta Grossa/PR?
O objetivo deste trabalho é pesquisar e estabelecer uma infraestrutura para a implantação e a consolidação de parques tecnológicos.
Nesta infraestrutura estão compreendidos os conceitos de limite do parque tecnológico, função, gerenciamento, posição geográfica e infraestrutura física para o desenvolvimento das novas empresas de base tecnológica.
(i) Identificar os fatores importantes na implantação de um parque tecnológico; (ii) Pesquisar os fatores importantes na implantação do Parque Tecnológico de Ponta Grossa/PR; (iii) Analisar os resultados da pesquisa, trazendo contribuições para a implantação do Parque Tecnológico de Ponta Grossa/PR.
Atualmente no Brasil existe um grande número de parques tecnológicos, o gráfico 1 mostra mais precisamente às fases em que estes parques se encontram, temos 74 parques tecnológicos, distribuídos em todas as regiões, com uma maior presença nas regiões sudeste e sul, provavelmente devido à concentração da produção técnico-científica destas regiões.
Gráfico 1
Parques Tecnológicos por Região Fonte: Adaptado de Anprotec (2008)
O gráfico 2 mostra as fases em que se encontram os parques tecnológicos, onde se vê que 66 % dos parques estão nas fases de projeto e implantação, que são as fases focadas neste trabalho.
Gráfico 2
Estágio dos Parques Tecnológicos Fonte: Adaptado de Anprotec (2008)
Este trabalho se justifica devido à vocação da cidade de Ponta Grossa, que possui uma vantagem peculiar, de ser uma das poucas cidades do Paraná a possuir duas universidades públicas, sendo uma federal e uma estadual, e contar ainda com vários programas de mestrado e doutorado, possuindo também uma rede privada de ensino superior que está em franco desenvolvimento, fato que será primordial para o fornecimento de ideias e mão de obra especializada para o futuro parque tecnológico.
Neste capitulo será feito um levantamento das experiências com parques tecnológicos buscando uma fundamentação do problema de pesquisa levantado no capitulo anterior.
Em 1968, Jorge Sábato e Natalio Botana descreveram o papel da cooperação universidade-empresa na inovação tecnológica e a sua relevância para o desenvolvimento econômico e social da América Latina.
Segundo Plonski (1995), os dois pesquisadores propuseram que para a superação do subdesenvolvimento da região, fosse realizada uma ação decisiva no campo da pesquisa científico-tecnológica. A proposta estava baseada em quatro pilares:
Relata Plonski (1995), que em estudos prospectivos tendo como visão os anos 2000, Sábato e Botana lançavam a ideia que o desenvolvimento cientifico e tecnológico não deveria ficar alheio à região em que ele estava inserido. Visando isto, a inserção da ciência e tecnologia era condição essencial para o processo de desenvolvimento. Esse processo resultaria da ação múltipla e coordenada de três setores primordiais para o desenvolvimento das sociedades contemporâneas: o governo, a empresa e a universidade.
Esse relacionamento foi representado graficamente por meio de um triângulo, mostrado na figura 1, com o governo ocupando o vértice superior enquanto a estrutura produtiva e a infraestrutura científico-tecnológica ocupavam os vértices da base. Nascia o Triângulo de Sábato.
Figura 1 - Triângulo de Sábato
Neste triângulo, ocorrem três tipos de ações: intra-relações (entre os componentes de cada vértice), inter-relações (os que se estabelecem deliberadamente entre pares de vértices) e extra-relações (as que se criam entre uma sociedade e o exterior). Plonski (1995, p. 35) menciona que: “as inter-relações se afiguram como as mais interessantes de serem exploradas”, mencionando o “caráter fundamental das inter-relações de tipo-horizontal – entre a infraestrutura científico-tecnológica e a estrutura produtiva”.
Essas relações constituem a base do triângulo e são as mais difíceis de estabelecer. Observa-se, portanto, que há mais de 30 anos, Sábato e Botana destacaram a necessidade de universidade e empresa interagirem, como condição fundamental para o desenvolvimento da sociedade.
Assim o Triângulo de Sábato torna-se o referencial para a transferência de tecnologia.
Um trabalho realizado pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná – FIEP, chamado Sondagem Industrial 2008/2009, mostra uma série de dados relativos a inovação tecnológica e ambiente industrial. A tabela 1 mostra o comportamento industrial onde para 30,66% das empresas a gestão do relacionamento com Universidades e centros de pesquisa, não se aplica, e mais, se somarmos a estas, as empresas onde a resposta é muito pouco e pouco este percentual sobe para 54,9% mostrando que a aplicação do Triângulo de Sábato é bastante desafiadora, diz-se desafiadora porque não deve ser um fator de desânimo, mas sim um fator motivacional para a implantação do triângulo através do parque tecnológico.
Tabela 1 - Comportamento Industrial
Fonte: Sondagem Industrial FIEP (2008/2009)
Analisando os dados do gráfico 3 , comprova-se esta falta de ligação entre as empresas e as universidades, pois apenas 6,33% das empresas paranaenses utilizam as universidades para treinamento de seus funcionários, lembrando que nestes 6,33% está incluído o antigo Cefet que possui um braço de relações empresariais muito mais estruturado e com muito mais parcerias com as empresas do que uma universidade, mostrando um panorama ainda mais desafiador para ser conquistado.
Gráfico 3 - Treinamento dos Funcionários
Fonte: Sondagem Industrial FIEP (2008/2009)
Segundo a International Association of Science Parks (IASP), um parque tecnológico é uma organização gerida por profissionais especializados, cujo objetivo fundamental é incrementar a riqueza de sua comunidade, promovendo a cultura da inovação e da competitividade das empresas e das instituições geradoras de conhecimento instaladas no parque ou associadas a ele. Com este objetivo, um parque tecnológico estimula e gere o fluxo de conhecimento e de tecnologia entre universidades, instituições de pesquisa, empresas e mercados, promove a criação e o crescimento de empresas inovadoras mediante mecanismos de incubação e de "spin-off", e proporciona outros serviços de valor agregado, assim como espaço e instalações de alta qualidade (IASP, 2008).
Conforme a IASP – “International Association of Science Parks”, parque tecnológico é uma organização administrada por profissionais especializados e cujo objetivo fundamental é:
Segundo a ANPROTEC - Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores, parques tecnológicos são complexos industriais planejados de base científico-tecnológica com o objetivo de:
Segundo a Association of University Related Research Parks – AURRP, sediada em Chicago, USA, um parque tecnológico possui as seguintes características (apud Alvarez, 1997, p. 73):
Nota-se que existem várias definições para parque tecnológico, a visão dos autores, das associações internacionais e da associação nacional não são idênticas. Um grupo de autores trata o parque com a visão da ciência e tecnologia, outro grupo traz o conceito imobiliário e um terceiro grupo trata o Parque com o conceito de incubação, mais uma vez temos o Triângulo de Sábato regendo este empreendimento emblemático que veio para reformar os pontos de vista e trazer o desenvolvimento de um ambiente híbrido e com características diferentes entre si, possuindo características próprias e definidas regionalmente em função do local de instalação do parque e das disponibilidades humanas, geográficas e financeiras.
Nesta seção foi feitoa uma pesquisa em âmbito nacional. Como uma das missões de um parque tecnológico é fomentar e propiciar o desenvolvimento regional, fica evidenciado que os fatores decisivos para o sucesso de um parque tecnológico deverão estar vinculados ao nosso território, sob nossas leis e projetos de incentivo e atração de novas empresas de base tecnológica.
Para tanto será usado o Portfólio de parques tecnológicos 2008 realizado pela ANPROTEC.
Segundo dados constantes do portfólio, nota-se que os fatores decisivos para o sucesso de um parque tecnológico são:
Segundo Oliveira (2008), na discussão de questões estritamente físicas dos parques tecnológicos, a primeira e mais fundamental decisão é a localização. Em pesquisa realizada em 2007 pela IASP – Associação Internacional de Parques Tecnológicos – junto aos seus associados, o segundo fator mais citado como relevante para o sucesso de um parque tecnológico é a localização. Em outras palavras, é importante decidir qual será o terreno em que o parque tecnológico se constituirá.
O levantamento feito pela ANPROTEC mostra a localização dos parques brasileiros, onde 71% dos parques encontram-se nos centros urbanos e 29% próximos das cidades, indo de encontro com a pesquisa do IASP.
Quanto à presença da incubadora o levantamento mostra que em 76% dos parques tecnológicos existem atividades de incubação de empresas, fato este que é essencial para o sucesso de um parque, pois na própria definição de parque tecnológico existe a presença de uma instituição “âncora”, a universidade, pela presença dos pesquisadores, mas principalmente pela presença e desenvolvimento da mão de obra qualificada que será absorvida pelo parque.
A maioria dos parques, 61%, são relativamente especializados, priorizando no máximo 3 setores, fato que pode ser tomado como um fator de escolha para o industrial e o investidor na definição da região e do Parque que irá abrigar o seu empreendimento. Um Parque focado possui mecanismos de fomento bem desenvolvidos no foco, possibilitando muito mais oportunidades de sucesso, pois as experiências vão sendo continuamente aprimoradas e compartilhadas pelas empresas instaladas, criando um “Know How” neste foco.
Um dos maiores méritos da implantação de um parque tecnológico é com certeza o desenvolvimento regional que é alavancado, este pensamento e esta missão estão fortemente ligados às Prefeituras Municipais que buscam formas de direcionar investimentos visando o desenvolvimento regional.
Na primeira do levantamento, tem-se uma natureza jurídica privada em torno de 58% dos parques tecnológicos do Brasil, número que vai contra esta tendência das prefeituras. Porém em uma análise mais detalhada, viu-se que nestes 58% estão incluídas as Fundações e Agências de Fomento, que apesar de terem a Natureza Jurídica Privada, possuem como maiores acionistas, isto é, com poder de decisão, as próprias Prefeituras Municipais. Tornando assim estes números perfeitamente dentro da realidade instalada hoje no Brasil, onde quase 100% dos parques tecnológicos surgiram de uma iniciativa Pública.
Este fator se bem entendido e bem usado tem a função de diferenciar um Parque Tecnológico de um Distrito Industrial, fato que é primordial para o sucesso do Parque, pois a função destes empreendimentos é muito distinta desde a essência até a operacionalização. A pesquisa mostra que 64% dos parques tecnológicos possuem como critério de admissão empresas que tenham atividades de inovação/pesquisa e desenvolvimento próprio e os 36% restantes proíbem a produção manufatureira.
Neste fator tem-se 40% dos parques com a posse do terreno sendo do Setor Público, fato que é benéfico, pois evita a doação da área e um futuro mau aproveitamento do parque, onde nem toda área é utilizada, e uma vez feita à doação do terreno torna-se muito difícil a recuperação da quantia não utilizada, assim pode ser feita a locação do terreno e se locatário decidir não utilizar ou retirar-se do empreendimento, esta recuperação da área é automática.
Os setores presentes nos parques tecnológicos deveriam ser definidos no foco do parque. O gráfico 4 mostra os setores mais contemplados nos parques brasileiros podendo ser usado no momento de definição do foco, fato que pode ser escolhido 3 ou 4 setores conforme a região de instalação do parque. Nota-se que os setores de telecomunicações e informática dominam a base do gráfico com uma presença substancial nos empreendimentos.
Gráfico 4 - Setores Presentes nos Parques Tecnológicos
Fonte: Adaptado de Anprotec (2008)
* Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Campus Ponta Grossa. E-mail: zammar@utfpr.edu.br
** Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Campus Ponta Grossa. E-mail: kovaleski@utfpr.edu.br
*** Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Campus Ponta Grossa. E-mail: gaia@utfpr.edu.br
Vol. 32 (1) 2011
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